"Estamos vivos"
Realista e pragmático quanto à importância do desfecho do clássico, José Mourinho mostrou-se satisfeito com o rendimento coletivo da equipa no decurso da análise do FC Porto-Benfica (0-0), jogo da 8.ª jornada da Liga Betclic, disputado neste domingo, 5 de outubro.
O treinador começou a sua intervenção na zona de entrevistas rápidas da Sport TV por lembrar que a "situação era complicada" em termos pontuais, frisando que "o Benfica não podia perder o jogo", sob pena de ficar a 7 pontos da liderança.
"A nossa situação era complicada. Não podíamos sair a 7 pontos, queríamos sair a 1, mas, como eu dizia agora aos jogadores, nem eu, no banco, me senti em condições de arriscar para ganhar. E eles próprios, em campo, também sentiram que o jogo estava controlado e bem controlado e que este jogo não se podia perder. Eles [FC Porto] podiam perder, até do ponto de vista emocional, vêm numa série fantástica de bons resultados; nós, numa série complicada – numa situação não fácil para nós –, era fundamental não perder. O outro rival, o Sporting, também empatou, o que significa que, neste fim de semana, em que, à partida, éramos aqueles que estaríamos numa situação mais difícil, acabamos por sair deste fim de semana sem pontos perdidos, nem para o FC Porto, nem para o Sporting, e estamos cá, estamos cá vivos", começou por anotar.
José Mourinho deixou elogios à organização da sua equipa: "Os jogadores foram fantásticos." "A equipa percebeu tudo. Não somos uma equipa que tem na frente jogadores muito rápidos, muito diretos, mas, do ponto de vista da organização, os jogadores foram fantásticos. Num estádio que não é fácil, contra uma equipa que não é fácil pela sua qualidade – e muito menos fácil pelo fantástico momento que atravessa –, viemos aqui com grande personalidade, com grande tranquilidade. Eu diria até que o Trubin não faz uma defesa, e penso que é o miúdo, o Mora, que tem um remate ao pau [poste], e nada mais. E nada mais, no campo de uma equipa que ganhou tudo e que hoje teve muitas dificuldades", disse, revelando que Ivanovic "apareceu doente" na manhã deste domingo, razão pela qual José Mourinho optou por "não arriscar".
JOGAR PARA GANHAR O Campeonato "[De que forma é que este 0-0 se construiu?] Construiu-se com muito respeito de parte a parte. Uma equipa que chega num momento imelhorável, a ganhar tudo e a jogar bem, e com grande empatia com os seus, e sem nenhum tipo de pressão relativamente à classificação, porque sabia que sairia sempre daqui líder. Do outro lado, uma equipa que não vive o melhor momento e que tem acumulado e acumulado jogos de dificuldade elevada – ainda nesta semana, um jogo de Champions League, enquanto o Francesco [Farioli] teve a oportunidade de mudar toda a equipa para o jogo da Europa League – e com a pressão da diferença pontual. Era fundamental para nós tentar ganhar, mas era fundamental, para nós, não perder. Era muito importante, para nós, não perder este jogo. E acho que foi um bocadinho por aí. Eles respeitaram-nos e não arriscaram nada. E nós, a partir do momento em que sentimos que gente fresca estava a entrar, William Gomes, [Pablo] Rosario, [Rodrigo] Mora, Deniz Gül, toda esta gente fresca a entrar, e nós, numa situação já de alguma fadiga, gerimos o jogo para não o perder. O Benfica joga para ganhar, mas o Benfica joga para ganhar o Campeonato. E, às vezes, para se ganhar o Campeonato, tem de se jogar para o ponto. E hoje era o dia em que se joga para ganhar, mas sabe-se que não se pode perder. Não perdemos, os jogadores tiveram um comportamento fantástico ao nível da organização, ao nível da concentração, ao nível do controlo emocional. Não levámos amarelos – levámos só um –, não cometemos faltas, fomos rigorosos, fomos limpos, fomos inteligentes. Acho que é um bom jogo de futebol, sem o perfume do golo. Eu acho que ninguém é culpado disto, mas acho que a responsabilidade é dos dois, do FC Porto e do Benfica."
NO BENFICA NÃO SE FESTEJAM Empates "A equipa cresce, a diferentes níveis. Em 4 dias, jogar entre Chelsea e FC Porto, fora, um é o campeão do mundo, o outro é o líder incontestado do Campeonato até agora, dois estádios difíceis, duas equipas, como eu costumo dizer, com muito jogador com motor, tudo gente rápida, tudo gente intensa, que dá um ritmo elevado ao jogo, nós temos um perfil diferente. A mim, deu-me prazer decifrar o FC Porto, deu-me prazer analisar o FC Porto enquanto adversário, porque é uma boa equipa, com um bom treinador, com boa organização, com boas dinâmicas, como eu dizia ontem [4 de outubro] na conferência de imprensa, uma equipa que deve ter utilizado todos os minutinhos que tiveram desde o início da pré-época para trabalhar a todos os níveis. É uma boa equipa que eu acho que está no topo do seu potencial. Nós, não. Nós temos muito a melhorar. E, para nós, sair daqui hoje a 4 pontos do FC Porto, e a 1 ponto do Sporting, tendo 2 jogos com o Sporting para fazer, tendo o FC Porto na nossa casa, e, depois, nós e eles, tantos jogos difíceis pela frente com outros adversários que não jogam para o título, mas jogam para os pontos, acho que nos pusemos numa boa situação. Era muito importante para nós. Até sob o ponto de vista emocional, os jogadores mereciam qualquer coisa. Garanto-lhe a si que ninguém está a festejar no balneário, garanto-lhe a si que ninguém está extrafeliz, estão mais contentes com aquilo que fizeram, estão mais contentes com aquilo que meteram no jogo, do que propriamente com o resultado. Aqui não festejamos empates, só se for um empate numa competição europeia que nos dê alguma passagem."
COMO SE CONTROLOU O FC Porto "Trabalhámos bem ontem [sábado], trabalhámos bem na sexta-feira [3 de outubro]. Eu tinha a dúvida entre jogar com o Aursnes naquela posição, numa situação mais individual com o Varela, mas conheço bem os dois centrais do FC Porto, porque um jogou em Itália quando eu estava em Itália, o outro jogou em Inglaterra quando eu estava em Inglaterra, conheço bem as coisas boas, conheço bem as limitações, e achámos que era melhor zonalmente, com 2 jogadores, matar 3. E com aqueles jogadores, ao matar 3, ficámos com um jogador extra atrás, digamos, desta linha de, não direi de pressão, mas de controlo posicional. Acho que saiu bem, eles tiveram efetivamente dificuldades. Depois fomos fortes no controlo da profundidade. O [Richard] Ríos e o Enzo [Barrenechea] fizeram um excelente jogo no controlo do Froholdt, que hoje praticamente não se viu, não por culpa dele, por culpa nossa. A mesma coisa com o Gabri Veiga. Não criaram, nunca, situações de perigo junto da nossa área. Acho que os jogadores tiveram mérito neste tipo de controlo."
O HANDICAP EMOCIONAL
"[Ao anular o FC Porto, não acabou por anular o Benfica, que até teve mais bola na 2.ª parte?] Acho que não. Acho que o Benfica tem as suas características. Como eu dizia, o FC Porto tem muito jogador com um motor de muitos cavalos, com grande capacidade de explosão e de atacar espaço. Nós não temos esse tipo de jogador, esse tipo de capacidade. Tínhamos de controlar o jogo de outro modo e não deixar o jogo partir. E neste momento da equipa, onde ainda há gente que sofre um bocadinho com pouca confiança – e, sem dizer nomes, vim encontrar 3/4/5 jogadores um bocadinho em crise de autoestima –, uma coisa é tu precisares de concentração para um trabalho tático importante, outra coisa é tu precisares de inspiração para qualquer coisa mais do que isso. E, neste momento, como eu dizia (eu disse aos jogadores), eu próprio no banco senti aquilo que eles sentiram em campo, que é: nós queremos ganhar, mas não podemos perder. E quando tu estás num jogo com este tipo de pressão sobre ti, não é fácil. Não é fácil de gerir, não é fácil de pensar, não é fácil de tomar decisões. O FC Porto não tinha essa pressão. E, mesmo não tendo essa pressão, não correram riscos. Trocaram jogador por jogador, ala por ala, atacante por atacante, e eles só podiam ir de 4 para 7, ou de 4 para 1. Mas 7 positivos. Nós podíamos ir de 4 para 7 negativos. Isto é um handicap muito grande do ponto de vista emocional que eu próprio, como treinador – e treinador, se não me engano, cumpri hoje o meu jogo 1200 oficial. Se não é hoje, será o próximo, ou foi no Chelsea, mas acho que foi hoje. É hoje, 1200. Mesmo um treinador com 1200 jogos está a jogar, e está a analisar o jogo, e está a jogar o jogo, mas aqui atrás está que, se perdes, vais a 7. E isto hoje para nós era uma limitação. Acaba por ser não o resultado que nós queríamos, mas o facto de estarmos a 4 pontos do FC Porto, e a 1 ponto do Sporting, é uma boa situação para nós. É só pena que agora durante 15 dias não veja os jogadores. E depois podia-nos ter tocado o Sintrense, o Atlético, o Águias da Musgueira na Taça, e toca-nos o Chaves, que era exatamente o último presente de que nós precisávamos antes de ir a Newcastle e depois de os jogadores virem das seleções."
JOGO PARA JOGAR ZONALMENTE "[Não era jogo para morder, hoje?] Não, era jogo para jogar zonalmente. Pode-se defender ao homem, pode-se defender zonal. Ao homem, corres mais riscos, principalmente corres riscos de duelos, corres riscos de cartões. Zonalmente, nós conseguimos, com 2, matar 3, [Alan] Varela, Bednarek e Kiwior, e depois posicionalmente controlámos o jogo. Eles têm uma grande oportunidade com um remate do Rodrigo [Mora], mas, se estivesse eu na baliza em vez do Trubin durante os 90 minutos, era a mesma coisa, que o Trubin não tocou na bola. A equipa jogou muito bem."
FOI PRAGMATISMO CONTRA PRAGMATISMO
"[Como se sentiu como técnico do Benfica numa casa que tão bem conhece e onde foi tão feliz?] Essa história não muda. A minha gratidão ao FC Porto também não se altera. Não sei se a gratidão deles para comigo se altera ou não, a minha para com eles não se altera de todo. Mas tive um jogo absolutamente tranquilo, focado no meu trabalho, focado em tentar ajudar a minha equipa. Já tinha jogado aqui com o Chelsea. Não posso dizer que durante o jogo tive algum sentimento especial. Aquilo que o presidente [André Villas-Boas] disse antes do jogo é absolutamente normal, e eu concordei imediatamente: 'Como é que deve ser recebido? Deve ser recebido como um treinador do Benfica.' Foi aquilo que aconteceu. Depois do jogo encontrei o presidente [do FC Porto ] no corredor, como amigos. Um abraço. E a vida continua. Em relação aos adeptos [do Benfica], olhando para a coisa de uma maneira muito objetiva, quando se vai ao Marquês, não se recorda nada, só se recorda o Marquês. E o nosso objetivo era o Marquês. Agora, não nego que em condições normais, de, em vez de estar a 4 pontos, estar em igualdade pontual, de ter 1 ponto a mais, de ter 1 ponto a menos, não nego que teríamos tido um approach diferente. Nós também falámos ao intervalo, pode ser que o FC Porto se queira desmontar. Não se desmontaram nunca. Não se desmontaram nunca. Não foi só o Mourinho que foi pragmático, o Francesco [Farioli] também foi pragmático. O Francesco seguramente também dirá: 'Eh, pá, não pudemos ir a 7, mas estamos a 4, estamos à frente.' Eles também não desmontaram nada. Portanto, se vocês analisarem a coisa na perspetiva de pragmatismo contra pragmatismo, organização contra organização, eu estou completamente de acordo com vocês. Se forem para o outro lado e disserem 'uma equipa tentou ganhar, e a outra não', já não estou de acordo."
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