"Estamos vivos"

 

Atribuindo mérito aos jogadores pelo triunfo, José Mourinho considerou que as águias "foram muito melhores" no decurso do Benfica -Nápoles (2-0), jogo da 6.ª jornada da fase de liga da Liga dos Campeões, disputado na noite desta quarta-feira, 10 de dezembro, no Estádio da Luz.

A satisfação de José Mourinho com a exibição efetuada pelo Benfica foi verbalizada nas primeiras palavras que proferiu na zona de entrevistas rápidas, à Sport TV, logo após o triunfo frente ao campeão italiano. "[A exibição?] Foi boa! Começámos muito, muito, muito bem. Aquilo que preparámos aconteceu. E acho que os jogadores interpretaram o jogo muito bem, jogaram muito bem, tiveram o espírito, a inteligência, a coesão que a defender bem exige, mas depois tiveram a classe, a confiança, souberam explorar os espaços que nós iríamos encontrar ao saber que eles vão muito à procura do homem-homem. Nós criámos grandes dificuldades com muita gente no meio-campo a atrair defesas e depois a explorar espaço nas costas para o Ivanovic atacar. Acho que fizemos um grande jogo, é uma grande vitória que nos mantém na luta", disse, reforçando que os embates que se seguem na prova, frente a Juventus e Real Madrid, "são de dificuldade máxima".

O técnico deixou elogios ao "muito trabalho" efetuado por Ivanovic na frente de ataque, estendeu-os aos jogadores como um todo. "É o mérito deles, ponto final, e acabou", atirou, antes de comentar as estreias de Tiago Freitas (19 anos) e José Neto (17 anos) na equipa principal do Benfica: "Confio neles e disse que, se tivessem de jogar, jogariam. Hoje [quarta-feira, 10 de dezembro], se houvesse algum problema com o Dahl, era o José [Neto] que entrava. Se houvesse algum problema com o [Richard] Ríos, era o [Tiago] Freitas que entrava, porque, com as devidas proporções, assemelha-se muito na forma de jogar, até na própria capacidade física de correr muitas áreas. [...] Era preciso gente para pedalar, era preciso gente para quebrar um bocadinho também o ritmo do jogo, era preciso gente que fosse forte no jogo aéreo, tanto o [Tiago] Freitas como o [José] Neto têm essa capacidade, e acho que é perfeito para eles. Porque estrear-se na primeira equipa do Benfica é top; fazê-lo na Champions, ainda melhor; fazê-lo na Luz, ainda melhor, e fazê-lo a ganhar, então, é o auge", frisou, antes de prosseguir com a análise na conferência de imprensa.

NOITE DIFÍCIL PARA OS EXPERTS EM ATACAR O BENFICA "Grande vitória, grande jogo. Coletivamente e individualmente. Não houve um único jogador em campo que não tivesse feito um grande jogo. Obviamente que depois acabam sempre por sobressair um ou outro, mas acho que eles, como equipa, foram fantásticos. Sob o ponto de vista defensivo, uma grande coesão, uma grande interpretação de um jogo difícil em que nós defendemos zona contra uma equipa que cria desenhos táticos muito difíceis de contrariar. E depois, com bola, aquilo que pensámos, eles interpretaram bem, as coisas saíram bem. O Ivanovic deu muita saída em profundidade, contrariando um modo de jogar que é muito mais fácil para eles jogadores que jogam em apoio, e é muito mais difícil para eles jogadores que saltam em profundidade. Pusemos muita gente pelo meio, essa gente pelo meio atraía os centrais deles a saltarem. Depois o Ivanovic era aquele que esticava na profundidade e que atacava os espaços e que rompia, digamos, com a compattezza defensiva que normalmente o Nápoles tem. Depois foram eles, foram eles que fizeram um grande jogo. Acho que hoje será mesmo muito, muito, muito difícil que os experts em atacar o Benfica... Eu acho que hoje vão ter dificuldades em fazê-lo, por muito que tentem, porque acho que hoje o Benfica fez efetivamente um grande jogo."

COMPARAÇÕES ENTRE A RECEÇÃO AO NÁPOLES E O DÉRBI "O trabalho foi muito igual àquilo que nós fizemos contra o Sporting. Em termos de preparação do jogo, foi muito parecido. Nós definimos princípios para os diferentes momentos do jogo. Não temos muito tempo para trabalhá-los, mas tentamos fazê-lo de um modo muito sistemático, muito objetivo. Contra o Sporting, cometemos um erro inicial que nos custou um golo, que nos trouxe um período de intranquilidade, e a exibição da equipa acaba por não ser completa, porque não foi do primeiro até ao último minuto. Hoje a coisa foi diferente. Acho que eles foram muito fortes, do primeiro ao último, contra uma equipa muito forte. Não são só campeões de Itália, são bicampeões nos últimos 3 anos, se eu não erro. Uma equipa muito forte, com jogadores muito fortes, com um treinador fantástico. Só que o Benfica hoje foi efetivamente muito melhor."

PAULADA DE TUDO QUANTO É LADO, MAS A CAMINHADA CONTINUA

"[O sonho benfiquista de um título europeu, muita gente diz que só com Mourinho. Não é muita pressão?] Não, porque não... Porque é irrealista, é uma pressão irrealista. A ambição dos Benfiquistas é a mesma ambição que eu tenho, eu ponho sempre os desafios mais altos, mas num momento como este, em que estamos fora – é que neste momento estamos fora. Eu não vi ainda, mas se formos agora ver, no fim de 6 jogos, a classificação, eu penso que estamos fora. Pronto, estamos fora. Neste momento estamos fora, você está a falar em ganhar a Champions, imagine a coisa. Mas estou contente com o jogo, e já está. E não só contente com o jogo, estou contente com este, estou contente com o jogo do Sporting, estou contente com a maneira como a equipa vai crescendo, estou contente como a equipa vai escondendo as suas limitações, porque as tem, estou contente como outras soluções vão aparecendo a pouco e pouco. Somos um perfil de equipa humilde, que leva paulada de tudo quanto é lado, mas continua tranquilamente a sua caminhada. Há 15 dias estávamos mortos na Champions, e agora estamos vivos. Ainda estamos ali com a cabeça debaixo de água, mas estamos na luta pela sobrevivência. Agora interrompemos, agora fixamo-nos nas competições internas, que jogaremos 3 competições internas, acho eu, até que chegue o próximo jogo da Champions. Esqueçamos a Champions agora."

NOTAS ARTÍSTICAS E UMA NOTA PARA CERTOS Artistas "Olhe, eu acho que não sou a pessoa indicada para falar de notas artísticas e de grandes análises, porque há pouco tempo... Eu tenho um 'problema' com este senhor aqui ao lado [Gonçalo Guimarães, diretor de imprensa do SLB], que é: eu não gosto de ler, não gosto de ouvir, mas ele persiste a mandar-me as coisas e persiste muitas das vezes a acordar-me para aí às 8 e meia da manhã a mandar-me coisas, e a não me deixar dormir, a mandar-me coisas às 11 da noite e à meia-noite, mas recordo-me de uma que me mandou, que era qualquer coisa como: 'A construção do Benfica é bola na frente, do Otamendi. E mais não faz.' Eh, pá, melhorámos qualquer coisinha, não? Já jogamos qualquer coisinha. Damos dois, três passes, e de vez em quando conseguimos fazer um golo como fizemos, por exemplo, o 2.º golo, que, se, em vez de sermos nós, tivesse sido uma equipa com uma camisola de cor diferente, teria sido uma nota artística elevadíssima. Eu não sei, nota artística é para vocês, não é para mim. Eu estou contente com a vitória, estou contente com a performance individual, com a performance coletiva, estou contente que os Benfiquistas vão para casa com felicidade de terem ganho um jogo grande, um jogo importante, e de continuarmos vivos na competição, que é o mais importante. O objetivo, nesta parte final do ano a jogar na Champions, era continuar vivo para os próximos 2 jogos, e lá estaremos."

MELHORAS, PIORAS E... SIGA A MARINHA

"[A equipa já está no ponto, ou longe do que ambiciona?] Longe. Longe. A equipa melhora pouco a pouco, a equipa vai melhorando, como eu dizia antes, melhora, esconde deficiências, esconde limitações, encontra novas soluções, começa a saber interpretar diferentes adversários, diferentes modos de jogar, hoje soube compactar, soube pressionar alto, soube baixar linhas, soube, nos últimos 10 minutos, defender com uma linha de 5 contra 2 gigantes na área mais alguns que chegavam de trás com um jogo muito direto, a equipa começa a ter cultura tática e começa a ser equipa. Mas obviamente que estamos longe daquilo que eu gostaria que fosse a nossa equipa. Mas quem nós somos neste momento, o grupo que somos, os jogadores que somos, acho que estamos a esconder muito bem as nossas limitações, estamos a desenvolver muito bem as nossas próprias qualidades. Por exemplo, outra das brilhantes mensagens com que tu [Gonçalo Guimarães] me acordas era que 'todos os jogadores do Benfica pioraram desde que eu cheguei'. Eu acho que o [Richard] Ríos piorou bastante, o Dahl piorou bastante, há muita gente que piorou bastante... Mas, pronto... Siga a marinha."

UMA PRENDA QUE ERA O MÍNIMO

"[Entrou com um saco. É uma prenda para algum jornalista?] Este saco? É meu, é meu, é a camisola do Scott McTominay. [Dada pelo jogador?] Claro! Fui eu que o meti lá dentro, fui eu que deixei o Pogba em casa para o meter a ele lá dentro, o mínimo que ele podia fazer era dar-me a camisola."

O PORQUÊ DE TOMÁS ARAÚJO E IVANOVIC NO ONZE Inicial "São escolhas que têm muito pensamento por trás, são escolhas que têm muita análise, são escolhas que fazem seguramente com que os rapazes que trabalham comigo, às vezes, me odeiem, porque eu sou chato, porque eu sou persistente, porque eu não deixo ninguém ir para casa enquanto não tiver tomado decisões. E pensámos que, contra um jogador que profundeza como o Højlund, que é rapidíssimo, que é potentíssimo, que devia estar em campo o nosso jogador mais rápido, que é o Tomás [Araújo], não há outro tão rápido quanto ele no eixo da defesa. E, por outro lado, contra uma equipa que quer defender ao homem e que quer jogadores que se aproximem das zonas do meio-campo a poderem ser apertados para poderem ser encurralados, em vez de ter um jogador tão técnico como o Pavlidis, achei que era melhor termos um jogador que procurasse a profundidade e que procurasse descompactar uma equipa que normalmente é muito compacta. Eu digo sempre que os treinadores, não eu só, todos, acho que todos os treinadores decidem bem. À partida, todos decidimos bem. Depois, são os jogadores lá dentro que fazem com que nós decidamos bem ou decidamos mal. E hoje foram eles os responsáveis por eu ter decidido bem, porque acho que são duas boas performances individuais que criaram uma diferenciação relativamente àquilo que nós somos quando eles não jogam. Deram-nos aquilo que nós idealizámos, deram-nos aquilo que nós pensámos que seria importante para o jogo."

A MOVIMENTAÇÃO-CHAVE DE Barrenechea "[Nesta construção de jogo, qual foi a importância individual e coletiva, por um lado, de Barrenechea lateralizar à esquerda e conseguir, de certa forma, ver o jogo de frente sozinho, e depois, num segundo momento, Aursnes, que conseguiu fazer movimentos a toda a largura? Qual foi a importância destes dois jogadores na saída de bola do Benfica?] Tu percebes da coisa! Parabéns, tu percebes da coisa. Pode ser que te levem para substituir algum dos sabichões que não sabem nada. É uma pergunta ótima. Aquele posicionamento do Barrenechea criava-lhes um problema, porque eles têm só 2 médios. Jogam só com 2, com o Elmas e com o McTominay. Quando o Enzo [Barrenechea] abre naquela posição, ou não pressiona, e ele recebe a bola sozinho e de frente, ou salta um médio e ainda abre mais espaços por dentro, ou tem de saltar um jogador tipo Neres, que efetivamente não é um rapaz que as suas qualidades mais fortes são a ocupação de espaços defensivos. E aquela movimentação do Enzo naquela posição é chave no nosso jogo com bola. Foi, neste jogo."

A CAPACIDADE MENTAL DE RICHARD RÍOS E BARREIRO"[Como é que se explica a evolução de Richard Ríos e Barreiro?] Eu acho que a personalidade deles. Acho que não é fácil ser jogador do Benfica, e ainda é menos fácil ser jogador do Benfica num momento atual em que é muito fácil bater no Benfica. E eles levaram muita paulada e demonstraram, primeiro que tudo, uma capacidade mental de lidar com muita crítica, com muito comentário ofensivo, onde se punha em causa a capacidade dos jogadores. Acho que isto aqui é o ponto fulcral da coisa e é o mérito deles. Depois é o conhecimento que nós cada vez mais temos uns dos outros. Eu próprio cada vez mais conheço os jogadores, e eles próprios se conhecem a si próprios. E o Ríos é um jogador que precisa de ter um raio de ação muito grande. Limitar o raio de ação ao Ríos é retirar-lhe uma das suas forças. Dizer ao Ríos 'tu não podes ir aqui' ou 'tu não podes ir ali' é muito, muito complicado. Aquilo que nós temos de dizer é: 'quando o Ríos vai para aqui, alguém tem de fazer isto'; 'quando o Ríos vai para lá, alguém tem de fazer isto'. E aquela conexão que nós temos neste momento entre Ríos, Aursnes e Barreiro está-nos a dar esse equilíbrio e, ao mesmo tempo, permitindo ao Ríos ser um grande jogador, porque ele é um grande jogador. Não conseguiram rebentar com ele."

JOSÉ NETO E TIAGO FREITAS COMO SCOTT MCTOMINAY "[O reencontro com Scott McTominay] Estava triste porque perdeu. Isto é o Scott, esta é a natureza dos jogadores habituados a ganhar. Perdeu, obviamente que estava feliz de estar a conversar 5 minutinhos comigo, mas o rapaz estava triste, perdeu, é normal. Está muito feliz no Nápoles. Como estrangeiro, ser considerado o melhor jogador do campeonato italiano no ano passado é uma coisa absolutamente fantástica. Qualifica a Escócia para o Mundial 20 anos depois, vive um momento muito bonito. Aquilo que fiz com ele, de ter sido quem o lançou, no Manchester United, é uma coisa que fica para sempre. É muito difícil fazeres um jogador estrear-se e não ficar uma ligação para sempre. Estes dois rapazes de hoje, José Neto e Tiago Freitas, terão 70 anos e recordarão que foi Mourinho quem os lançou. É uma ligação que fica para sempre. Eu e Scott falamos frequentemente, mas há muito tempo que não estávamos juntos."

A VELHA SENHORA QUE SE SEGUE

"Nós precisamos, não sei, acho que 3 pontos não serão suficientes, pelo menos 4. A situação é difícil para nós. Mas o calendário do Benfica é absurdo. Tivemos um primeiro jogo, com o Qarabag, que é um jogo que se deve forçosamente vencer, mas depois o calendário é absurdo: Nápoles, Juventus, Real Madrid, Bayer Leverkusen, Chelsea e Newcastle... É um calendário terrível. Mas estamos vivos. Há 2 semanas estávamos mortos, fizemos estes 6 pontos com 2 vitórias por 2-0 que na questão da diferença de golos já nos deixa numa posição mais equilibrada... Vamos ver o que acontece. Mas em Turim será naturalmente muito difícil, porque é outra equipa muito dura."