"Gostava muito de jogar uma final de Taça pelo Benfica"
Seriedade e respeito competitivo pelo adversário são garantias vincadas pelo treinador José Mourinho na antevisão do Chaves-Benfica, jogo da 3.ª eliminatória da Taça de Portugal , agendado para as 19h30 desta sexta-feira, 17 de outubro, no Estádio Municipal Engenheiro Manuel Branco Teixeira.
Em conferência de imprensa, no Benfica Campus, José Mourinho revelou a intenção de "mudar muito pouco" no que concerne à formação da equipa, na qual não estará Richard Ríos, acabado de regressar dos compromissos da seleção da Colômbia.
Convicto de que o Benfica "tem melhorado", o treinador deixou elogios ao Chaves – "uma das equipas mais fortes da Segunda Liga". "Temos de jogar bem. Se não jogarmos bem, vamos ter dificuldades", referiu.
Começa aqui um ciclo novo. Pergunto-lhe, antes de mais, como foram estes dias de treino, apesar das ausências no plantel, e que Chaves é este. Que equipa é que acha que vai enfrentar amanhã [sexta-feira]?
Quem ficou, trabalhou bem. Quem foi chegando, progressivamente, foi sendo integrado. E deu, nos últimos dois dias, hoje [quinta-feira] e ontem [quarta-feira], para trabalhar a especificidade do jogo contra o Chaves. É o típico jogo de Taça de Portugal, em que há uma equipa de uma divisão inferior, mas não de um futebol de divisão inferior. É uma das equipas mais fortes da Segunda Liga. É uma equipa que, seguramente, se estivesse na Primeira Liga, não seria muito diferente das equipas da segunda metade da tabela na Primeira Liga. É uma boa equipa, que irá exigir de nós seriedade. A começar por mim, e a ser capaz de transmitir essa seriedade aos jogadores. Acho que é respeito pelo Benfica, respeito pelos adeptos do Benfica, o significado que a Taça de Portugal tem na história do Clube, e é respeito pelo Chaves, pelos seus jogadores, pelo seu treinador, que tem qualidade, repito, não qualidade de Segunda Liga. Portanto, há que respeitar esta situação e ir, como eu disse, com seriedade. Se ganharmos, as coisas serão vistas com naturalidade. Se não ganharmos, as coisas não serão vistas com naturalidade. Isso tem de ter também um peso. Nós melhorámos. Temos vindo a melhorar, apesar do pouco tempo de trabalho. Temos utilizado bem os jogos para tentar melhorar com os jogos, já que não podemos melhorar muito com o treino. E vamos fazer isso também amanhã. Eu sei que seguramente algum de vós [jornalistas] terá depois a típica pergunta se vou mudar muito a equipa, ou se vou dar oportunidades a A, B, C ou D. Vou mudar muito pouco.
"Nós melhorámos. Temos vindo a melhorar, apesar do pouco tempo de trabalho. Temos utilizado bem os jogos para tentar melhorar com os jogos, já que não podemos melhorar muito com o treino" José Mourinho
Acabou de falar da importância do jogo e das dificuldades, considerou o Chaves uma equipa que joga na Segunda, mas que tem um futebol de Primeira. Quais são os grandes riscos que o Benfica vai correr neste jogo? Se tivesse de escolher entre a Liga dos Campeões e a Taça, qual é que escolheria? Acabou de dizer que já não vai mudar muito. E como é que foi a pelada entre a equipa técnica, o Aursnes e o outro rapaz?
A pelada foi boa, porque, no fundo, acabámos por ter um grupinho inesperadamente maior do que aquilo que estávamos à espera. O Enzo [Barrenechea] acabou por não ir à seleção. O Dahl acabou por não ir à seleção. O Joshua [Wynder] foi eliminado nos quartos de final [do Mundial Sub-20] e voltou. Acabámos por ter um grupo que foi crescendo a pouco e pouco, e nunca tivemos aquela situação de estarmos completamente sozinhos, mais treinadores do que jogadores. Portanto, acabou por ser um trabalho positivo para aqueles que não foram, e, depois, a própria utilização dos jogadores nas seleções nacionais – neste caso, para muitos deles, a não utilização – acaba por ter um lado positivo e um lado negativo. O lado positivo é que não vêm carregados de minutos, muitos deles. O lado negativo é que, muitas das vezes, nas seleções, não se treina muito, ou o treino é um treino, posso imaginar, muito mais virado para a tática específica relativamente a um jogo, e quem não joga normalmente não treina muito. Portanto, há sempre esse pedacinho de dúvida, mas eu dizia: ontem [quarta-feira] e hoje [quinta-feira], acabámos por ter condições para trabalhar bem, e acho que estamos preparados. O risco é não jogar bem. O risco é o Chaves fazer um jogo fantástico, que é uma coisa normal de acontecer, acho que é isso mesmo que vai acontecer. O risco é nós não o fazermos, e obviamente que a preparação do jogo foi no sentido de tentar evitar isso mesmo. Analisámos com muito tempo o Chaves, porque tivemos todo este tempo para analisar o Chaves. Analisámos o Chaves, e tentámos trabalhar à volta daquilo que são os pontos mais fortes, os pontos mais fracos. Temos de jogar bem. Se não jogarmos bem, vamos ter dificuldades.
Recuando até 2004: perdeu a final da Taça de Portugal e, passados uns dias, tornou-se campeão europeu. Agora, 21 anos depois, como é que encara este regresso à prova-rainha?
Olha, eu nunca... Já ia mentir. Eu ia dizer que nunca fui eliminado da Taça de Portugal, já ia mentir, porque fui eliminado da Taça de Portugal com a União de Leiria. Depois, nas duas épocas seguintes, fui a duas finais. Ganhei uma, perdi outra, e gostava muito de voltar. O Benfica tem uma história fantástica com a Taça de Portugal. Tem uma Taça a menos que aquelas que deveria ter, porque a Taça da época passada, todos sabemos, devia ter sido do Benfica, e não foi por motivos um bocadinho estranhos àquilo que normalmente é a essência do jogo. Mas o Benfica tem tradição de Taça, eu próprio cresci a ir ao Jamor. Primeiro tive a sorte de ir ao Jamor, pequenino, ver o meu pai jogar, e depois fui ao Jamor inúmeras vezes. Com o meu pai treinador, uma vez, e depois inúmeras vezes vi Benfica-Sporting, vi Benfica-FC Porto, vi Vitória de Setúbal-Benfica... O Jamor continua, para mim, a ser qualquer coisa que, como se diz em Inglaterra, está under the skin. É uma coisa que ainda mexe comigo. Nunca tendo jogado uma final da Taça de Portugal como treinador do Benfica, era uma coisa que eu gostava muito de fazer. E a pergunta que o seu colega fez antes sobre o que era mais importante, a Champions ou a Taça de Portugal: hoje, a Taça de Portugal é muito mais importante do que a Champions. Depois, no sábado, a Champions passa a ser mais importante do que a Taça de Portugal, mas de hoje até amanhã [sexta-feira], ao final do jogo, a Taça de Portugal é mais importante.
"O Benfica tem uma história fantástica com a Taça de Portugal. Tem uma Taça a menos que aquelas que deveria ter, porque a Taça da época passada, todos sabemos, devia ter sido do Benfica, e não foi por motivos um bocadinho estranhos àquilo que normalmente é a essência do jogo"Já esteve no Sporting, já esteve no FC Porto, agora está no Benfica e voltou agora ao futebol português. Como descreve o ambiente neste momento entre os presidentes dos três grandes clubes? O motivo deste ambiente entre os três presidentes, é esse o estranho fator de que falou agora, que decidiu não dar a Taça de Portugal ao Benfica?
Não, eu não quero entrar nesse contexto, eu limito-me a ser treinador e a olhar para os jogos com olhos de treinador; e, mesmo quando não sou o treinador das equipas envolvidas num determinado jogo, não consigo deixar de olhar para aquele jogo sem ter olhos de treinador. Aquela final da Taça [de Portugal] foi uma final da Taça com – muito simplesmente, resumo-me a isto – um trabalho infeliz da equipa de arbitragem, incluindo obviamente os VAR, que, neste momento, são muito mais importantes, às vezes, do que os árbitros que estão em campo. Limito-me simplesmente a analisar isto com olhos de treinador. Os problemas entre os presidentes dos diferentes clubes, acho que é quase uma coisa histórica, mas depois, quando as emoções esvanecem, vem obviamente o sentimento de que têm de estar unidos em prol do desenvolvimento do futebol português e na resolução de alguns problemas que têm de ser resolvidos por todos eles. Portanto, para quem é português, para quem já não vive em Portugal há 25 anos, mas é como se vivesse, porque sempre acompanhei como se estivesse cá, não é nada de novo, não é nada de alarmante, é bom para vocês [jornalistas] porque vos ajuda no vosso trabalho. Não vejo nenhum drama nisso nem é qualquer coisa que me preocupe...
Há motivos estranhos no futebol português?
Não sei, às vezes os árbitros erram, e às vezes erram de maneira decisiva no desenrolar do resultado do jogo. Procuro olhar sempre para isso, como disse, na perspetiva do treinador: o treinador erra, os jogadores erram, os árbitros erram, e, quando, infelizmente, os erros se traduzem em alterações importantes à verdade do jogo, é um bocadinho mais mediático, é um bocadinho mais difícil de aceitar, mas eu olho para isso com olhos de treinador e não com olhos de comentador ou com olhos de dirigente.
Começo por lhe perguntar pela baliza do Benfica. Disse que iria mudar muito pouco, pergunto-lhe se haverá troca entre Trubin e Samuel Soares. E, se me permite, gostaria também de questioná-lo sobre o ataque do Benfica. Nos últimos 2 jogos, o Benfica não fez golos, perdeu com o Chelsea e empatou com o FC Porto, e, em 5 jogos de José Mourinho, marcou apenas 6 golos, creio que será menos do que aqueles que José Mourinho gostaria de ter. Como é que vai resolver esse problema do ataque do Benfica?Amanhã [sexta-feira] joga o Samuel, mas não se trata de uma competição para o Trubin e uma competição para o Samuel. De todo. Espero, obviamente, ganhar, e espero depois jogar ou com o Atlético na Tapadinha ou com o Felgueiras em Felgueiras... Não lhe posso garantir que é o Samuel que vai jogar esse próximo jogo da Taça de Portugal. É uma decisão relativamente a este jogo, o Samuel é um ótimo guarda-redes, nos meus 5 jogos aqui ainda não jogou nenhum minuto. Eu fui sempre – não só com ele, mas também com outros jogadores – na direção da estabilidade, e ele nunca jogou. Trabalha muito, merece jogar, ficou aqui connosco; o Trubin jogou 2 jogos nos últimos 15 dias, o Samuel não jogou. Temos total confiança nele, e, sim, o Samuel vai jogar amanhã. Nos 2 últimos jogos não marcámos golos, mas podíamos ter marcado. Não tivemos 10/15/20 oportunidades de golo, mas tivemos as suficientes, em jogos desta dificuldade e em jogos desta dimensão, para fazer e para ganhar (ou, no mínimo, contra o Chelsea, fazer e empatar). Nos outros jogos, os golos marcados não foram, obviamente, suficientes, mas fizemos 3 ao Desportivo das Aves [AVS], fizemos 2 ao Gil Vicente, que nos permitiram ganhar jogos. E o melhoramento dos nossos números tem que ver com trabalho que nós temos de fazer; tem que ver com introdução de algumas novas ideias; tem que ver com níveis de confiança nos jogadores, que têm, obviamente, de melhorar também a esse nível; e temos de partir de uma base de estabilidade, e a base de estabilidade também é estar bem organizado sob o ponto de vista defensivo, a equipa sentir-se cómoda, a equipa sentir-se confortável, a equipa nunca se sentir dominada, porque – podem dizer o que quiserem, podem dizer o que quiserem, eu tenho 1200 jogos no banco, ser criticado por alguém que não tem um único minuto, acho que não é dramático, mas a minha ideia prevalece – nós, até agora, nunca fomos dominados em jogo nenhum. Nunca fomos dominados em jogo nenhum. E uma coisa é jogar defensivamente e ser dominado e ter de defender muito, e outra coisa é jogar muito bem organizado, com grande consciência, com grande tranquilidade, e nunca ser dominado. E nós nunca fomos dominados. Nem pelo Chelsea, nem pelo FC Porto.
Pergunto-lhe primeiro: Sudakov – veio mais cedo da seleção, lesionado –, se pode contar com ele para este jogo, ou eventualmente só para a Liga dos Campeões. Por outro lado, peço-lhe um exercício de memória: o meu colega já falou da final da Taça [de Portugal] de 2004, o jogador [Simão Sabrosa] que marcou o golo do Benfica e que derrotou o FC Porto senta-se agora ao seu lado no banco. Já falou com ele sobre esse jogo? Recordou esse jogo? Não, não falámos deste jogo, mas... O Simão Sabrosa, quando foi para o Barcelona, era eu que o esperava no aeroporto. Era um menino talentoso do futebol português que vai para um gigante europeu e que tinha à sua espera um português, que não era importante na estrutura do clube, mas era um português que estava na estrutura, que lhe pôde dar uma mão desde o primeiro dia, que já estava no clube há dois anos, portanto, quando ele chega, eu já tinha dois anos de clube. Criei com ele – não quero dizer aquela relação de pai e de filho, porque eu não sou assim tão velho, e ele não é assim tão jovem – aquela relação quase de irmão mais velho. Portanto, a minha relação com o Simão é uma relação de muito carinho porque começou aí. Ainda não falámos desse jogo porque eu tenho uma característica muito importante: lembro-me muito mais dos momentos bons do que dos momentos maus [sorrisos]. Então, nunca conversei com ele sobre essa situação. Mas claro que recordo. Recordo-me também de descer as escadarias como vencido e... Se calhar, quiseram só ser simpáticos, mas lembro-me perfeitamente de muito Benfiquista a dizer-me "Vá lá, vá lá, que agora vais ser campeão europeu". Não sei se quiseram ser simpáticos, mas tenho essa recordação perfeita de descer como vencido e, em vez de ser quase picado ou quase humilhado pelo adepto vencedor daquele jogo e daquela final, de ter sido estimulado positivamente.
"Nunca fomos dominados em jogo nenhum. E uma coisa é jogar defensivamente e ser dominado e ter de defender muito, e outra coisa é jogar muito bem organizado, com grande consciência, com grande tranquilidade, e nunca ser dominado. E nós nunca fomos dominados"Na última pausa, o Benfica jogou – mas não consigo – a uma sexta-feira. Bruno Lage, na altura, disse que preferia ter jogado no sábado. No seu caso, percebe e prefere jogar nesta sexta-feira, ou seria preferível, em termos da preparação para o jogo, no sábado?
Aqui, o erro é só um: devia-nos ter tocado o Águias da Musgueira, o Oriental, o Cultural da Pontinha... Tínhamos tantas opções, e vem-nos tocar o Chaves, e tivemos sorte de não nos ter tocado o Ourense, que ainda é um bocadinho mais longe. Esse é o único problema. Obviamente que tem de ser sexta [17 de outubro]. Já vamos chegar a Lisboa madrugada fora, no sábado [18 de outubro]. Vamos ter de viajar segunda [20 de outubro], vamos ter de jogar terça [21 de outubro]. Obviamente que prefiro perder um dia relativamente à chegada dos jogadores da seleção, e ganhar um dia na preparação para o outro jogo. Eu diria até que a maioria dos jogadores que vai começar o jogo amanhã [sexta-feira] não é gente que acabou de chegar. Tem de se tomar opções. Não tenho problema em dizer: o [Richard] Ríos, amanhã, não joga. É o último a chegar, não treina com a equipa. Tem de se tomar opções, mas obviamente prefiro jogar sexta e terça do que jogar sábado e terça.
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