"Temos chances com o Lyon, venham apoiar-nos na Luz"

Chegou há pouco mais

de um ano ao Benfica (assinou contrato em janeiro de 2023), adaptou-se, passou a desfrutar mais do desporto-rei e nesta temporada tem sido um dos garantes do equilíbrio no meio-campo das tricampeãs nacionais. Titular em 33 dos 34 jogos em que participou, Anna Gasper é a jogadora com mais minutos na presente época, sinónimo da importância no esquema tático de Filipa Patão.

Ciente da evolução constante das águias, que hoje ocupam o 11.º lugar do ranking da UEFA, no Dia Internacional da Mulher [8 de março], em entrevista ao jornal O Benfica, a centrocampista alemã abordou a época das Inspiradoras, bem como a sua própria evolução de águia ao peito. As exibições bem-sucedidas nas encarnadas alimentam as possibilidades de uma chamada à seleção, um dos objetivos da atleta, que assume estar a viver a melhor temporada da carreira.

Que balanço faz da presente temporada, até ao momento?

Até agora, podemos estar felizes. Houve alguns jogos em que as coisas não correram bem, mas estamos na liderança da Liga, com sete pontos de avanço sobre o Sporting, e isso é muito bom para nós. Vencemos a Supertaça, estamos nos quartos de final da Liga dos Campeões e na disputa de ambas as Taças [da Liga e de Portugal].

Está no Benfica desde janeiro de 2023. Como foi a adaptação a uma nova realidade?

A primeira metade da temporada passada foi muito dura para mim, porque estava a chegar a um país diferente. Hoje, considero que foi a melhor decisão que tomei. A equipa foi fantástica comigo. Trabalhei bastante, e no verão passado estava na minha melhor forma. A Lena [Pauels] também chegou ao Clube, e isso permitiu que pudesse falar na mesma língua, o que me ajudou bastante. O staff e a equipa técnica também foram sensacionais.

"Vir para o Benfica foi a melhor decisão que tomei. Staff e equipa técnica foram sensacionais"

Anna Gasper

E esse trabalho deu frutos! É a jogadora com mais minutos na presente temporada. É sinal do seu trabalho diário…

Tenho trabalhado bastante todos os dias e tenho conseguido ajudar a equipa. É muito bom sentir a confiança da treinadora, o que dá muita confiança para continuar a evoluir e tornar-me melhor. Sinto que estou melhor de jogo para jogo e a evoluir em pequenas coisas. Gosto de ter muitos minutos, pois é isso que uma futebolista pretende. Estou feliz, tem sido um bom trabalho.

Pode considerar-se que esta é a melhor época da sua carreira?

Talvez seja, até porque joguei a Liga dos Campeões pela primeira vez. Na Alemanha, fiz uma boa época, cheguei a ser chamada à seleção [Anna Gasper é internacional pelas seleções jovens], mas foi diferente. Aqui, tenho um papel mais importante na equipa. As minhas colegas precisam de mim, tenho bastantes minutos, e esta é a minha época preferida.

Falou da seleção. Acha que os seus desempenhos consistentes podem levar a uma chamada?

Espero que sim, mas é muito difícil, porque na Alemanha há muitas jogadoras, particularmente na minha posição, no meio-campo. Espero que vejam o que tenho feito, reconheçam o meu trabalho e possam equacionar o meu nome. Mas, mesmo que possam convocar outras jogadoras, está tudo bem.

Acredita então que os responsáveis pela seleção possam estar de olho em si?

Acho que observam os jogos e efetuam análise das jogadoras, principalmente na Liga dos Campeões. É o nível mais alto no qual podemos competir em termos internacionais. Vou dar o melhor, mas claro que representar a seleção é um objetivo, bem como estrear-me pela seleção principal. Vou dar o meu melhor pelo Benfica, e o que tiver de acontecer… acontecerá. Vamos aguardar.

No meio-campo, tem jogado frequentemente com Andreia Faria. Como tem sido essa parceria?

Sabemos o que cada uma deve fazer em campo. Se ela avançar no terreno, eu fico mais recuada… É bom ter alguém com quem tenhamos esta conexão em campo. Torna tudo mais fácil e permite que o foco esteja no que estamos a fazer em campo e nas decisões a tomar.

"Representar a seleção alemã é um objetivo, espero que reconheçam o meu trabalho"

Já falou do Campeonato e das taças em disputa, que o Benfica pretende vencer. E em relação à Liga dos Campeões, acha que os desempenhos na fase de grupos, em especial com o Barcelona em casa (4-4), mostraram que o Benfica pode competir com qualquer rival na Europa? Segue-se o Lyon nos quartos de final…

Acho que nesse jogo em particular, depois de estarmos a perder por 0-2, demos a volta, e ficou evidente que esse é o mínimo que temos de fazer para jogar contra um rival deste nível. Penso que o Lyon está no mesmo patamar que o Barcelona, e acho que temos hipóteses, mas elas têm uma grande equipa e estão habituadas a realizar este tipo de performances em todos os jogos. Com o Barcelona, a pressão era mais reduzida, porque tínhamos alcançado o nosso objetivo, e isso ajudou-nos a fazer melhor do que na 1.ª volta contra elas. Mostrou que, realisticamente, temos chances frente ao Lyon, caso tenhamos um dia muito bom. Será possível vencer, e agora temos mais jogadoras de volta, recuperadas de lesão. Há muita qualidade na equipa, mais opções. A 1.ª mão com o Lyon será em casa, no Estádio da Luz, e isso ajuda-nos, como se viu com o Eintracht Frankfurt [1-0]. Foi fantástico. Os adeptos ajudaram-nos imenso.

"Jogar no Estádio da Luz é muito especial, e queremos retribuir o apoio"

Quão especial é jogar no Estádio da Luz? Participou nesse triunfo ante o Eintracht…

É muito especial! Entrar em campo e ver todos os adeptos a apoiar é fantástico. Ter tanta gente a ver-nos jogar, fazer o que amamos… É um sentimento especial, porque queremos retribuir. Ajuda-nos durante o jogo, até nas fases em que não estamos tão bem em campo, pois dão-nos força. É um sentimento fantástico jogar no nosso estádio!

A propósito, convidamo-la a deixar uma mensagem aos benfiquistas sobre esse jogo, agendado para as 20h00 de 19 de março.

Espero que muita gente marque presença. Talvez possamos ter mais adeptos do que no encontro com o Eintracht [10 785 espectadores], gostámos bastante e daremos o nosso melhor. Espero que nos apoiem em prol do nosso sonho! O Benfica tem efetuado uma aposta sustentada na equipa feminina de futebol.

Como avalia as condições proporcionadas para o desenvolvimento da mesma?

O Benfica procura dar-nos as melhores condições possíveis. Nesta época, passámos a trabalhar no Benfica Campus de forma regular, e acho que fazem tudo para nos apoiar. Dão-nos bastante, e cabe-nos retribuir em campo, com conquistas. Acho que o Clube está no bom caminho em termos das condições que proporciona para o desenvolvimento da nossa equipa.

"As jogadoras do Benfica têm desempenhado um papel importante na seleção, porque dão tudo, tal como no Clube"

PELA IGUALDADE DE GÉNERO: "O BENFICA ESTÁ NO CAMINHO CERTO"

A 8 de março assinalou-se o Dia Internacional da Mulher. Para a média germânica, "todos os dias devem ser encarados como Dia da Mulher". "Deverá haver igualdade entre homens e mulheres, sabendo das diferenças genéticas. Temos de respeitar-nos e saber que cada um dá o melhor nas suas áreas", vinca Anna Gasper, sentindo que os valores do Benfica estão amplamente refletidos com a aposta em formações masculinas e femininas nas mesmas modalidades. "Por vezes, assisto a outras modalidades. Acho que os adeptos do Benfica mostram interesse em ambas as vertentes, e isso é bom, porque fazemos o mesmo esforço em cada modalidade. O Benfica está no caminho certo, pela forma como tenta apoiar e ajudar os homens e mulheres em cada modalidade", sustenta.

SELEÇÃO VOA COM AS JOGADORAS ENCARNADAS

Resultado da aposta do Clube na equipa feminina de futebol, o Benfica tem dominado no panorama nacional. Com diversas atletas nacionais com qualidade superlativa, nas convocatórias da seleção nacional portuguesa, as águias costumam ser o emblema com mais jogadoras entre as eleitas. Anna Gasper assume acompanhar os desempenhos da equipa das Quinas, considerando que há uma relação direta entre o crescimento da seleção e o momento de forma das águias. "Acho que as jogadoras do Benfica têm desempe­nhado um papel importante na seleção, porque dão tudo, tal como no Clube, e o Benfica cresceu de forma muito rápida. Quando estão na seleção, o desempenho que efetuam no Benfica contribui para que Portugal realize melhores jogos contra outras seleções. Além disso, inspiram muitas meninas portuguesas. Portugal tem uma equipa muito boa e tem tudo para melhorar e evoluir", analisa.

A DESFRUTAR AINDA MAIS DO FUTEBOL EM PORTUGAL

As diferenças entre o futebol alemão, cuja seleção feminina é uma das melhores do mundo, e o português são notadas por Anna Gasper, atleta de 27 anos. "Quando cheguei a Portugal, apercebi-me de que a mentalidade das jogadoras portuguesas, em comparação com as alemãs, é muito diferente. As jogadoras portuguesas gostam muito de procurar fazer algo especial. Todas conseguem driblar muito bem. Na Alemanha, há uma base de futebol mais direto. Só se faz o que realmente for necessário e da melhor forma possível para ajudar a equipa", começa por referir.  A vinda para o Benfica foi uma mais-valia para a sua carreira e rompeu com a forma como encarava o desporto-rei. "Acho que vir para o Benfica ajudou-me bastante, no sentido de desfrutar mais de jogar futebol. É gostar do que fazemos", revela. Como tal, no entender da média germânica, houve melhorias na sua forma de olhar para o jogo, pois bebeu da mentalidade lusa. "Penso que conjugar um mix de ambas as mentalidades é o melhor. É bom que tenhamos diferentes jogadoras e atletas de diferentes nacionalidades", explica.

A APRENDER PORTUGUÊS: "CARREGA, BENFICA!"

Anna Gasper reconhece que a língua portuguesa é bastante difícil. Por um lado, já entende muito do que é dito pelas companheiras de equipa lusas, bem como por parte da equipa técnica, mas ainda não consegue falar corretamente na língua de Camões. Está a esforçar-se para que tal seja uma realidade a breve prazo, e por isso frequenta aulas de português uma vez por semana. Como nos confidencia, está a ter aproveitamento, e comprovamo-lo através do modo como pronuncia duas frases de forma praticamente irrepreensível. "Mais uma vitória importante! Carrega, Benfica!", diz, entusiasmada e com fervor clubístico.

RETRIBUIR APOIO DO PRESIDENTE

A presença do Presidente, Rui Costa, nos pavilhões em encontros de várias modalidades encarnadas tem sido sistemática. E, como é natural, é uma situação extensível aos jogos da equipa feminina de futebol. Para as Inspiradoras, é um motivo de honra, como destaca Anna Gasper. "É muito bom que esteja presente em alguns dos nossos jogos. Ver-nos jogar deixa-nos com um grande sentimento, e queremos mostrar que estamos a fazer o melhor pelo Clube. É um bom sinal que esteja nos nossos jogos, é revelador do interesse que tem pela nossa equipa e pelo que estamos a fazer", refere a média alemã.

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