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Edição de sexta-feira, 08 de novembro 2024

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O antigo Estádio da Luz e uma questão de datas


 

A edificação do antigo Estádio da Luz é um dos acontecimentos fundamentais na história do Sport Lisboa e Benfica. A existência do novo Estádio, inaugurado em 1954, delimita períodos distintos nos âmbitos associativo, desportivo e económico do Clube, constituindo-se como um fator determinante na materialização do enorme potencial inerente a um clube com uma massa adepta gigante e imensamente dedicada como a benfiquista.

Atente-se aos números constantes nos relatórios e contas do Sport Lisboa e Benfica: entre 1952 (ano de início das obras do Estádio) e 1954 houve um acréscimo efetivo de 7059 sócios, significando um crescimento na ordem dos 30%, o que correspondeu a um aumento das receitas de quotização em torno dos 67%. Nas receitas geradas pelo futebol observou-se um incremento acima do dobro de 1953 para 1954, não obstante a inauguração ter ocorrido somente em 1 de dezembro.

Escreveu-se no relatório de 1954: "Para o aumento das receitas contribuiu poderosamente o elevado número de sócios entrados, as receitas dos jogos da inauguração do nosso Estádio e a marcação de maior número de lugares cativos."


Ter uma casa própria que respondesse às necessidades de um clube em contínuo e acelerado crescimento foi sempre uma ambição bem presente nas preocupações dos associados do Benfica, resolvida de forma definitiva só com o surgimento do Estádio da Luz (em rigor, o problema tornou-se inexistente quando, décadas mais tarde, o Clube tomou posse dos terrenos).

A lotação do Estádio era uma questão vital: os sócios usufruíam da entrada livre nos jogos, o que resultava num condicionamento do número de associados à capacidade do campo de jogos. E com o Estádio da Luz (aquando da inauguração, 35 mil espectadores mais uns milhares "apertadinhos") quase que duplicou o potencial de crescimento da massa associativa, sendo que os planos existentes de ampliação do Estádio auguravam um futuro ainda mais risonho.


Estádio da Luz

Importa aqui abrir um parêntesis: a dimensão do Estádio da Luz foi a possível em função do que se entendeu ser a capacidade de investimento do Clube, já de si imensamente musculada pelas avultadas contribuições de sócios e adeptos através das mais variadas iniciativas (perduravam na memória coletiva – e em particular na do Presidente Joaquim Bogalho – os problemas financeiros resultantes da construção do Campo das Amoreiras, com implicações nefastas no desempenho desportivo). Só no final da década se acrescentariam as torres de iluminação (junho de 1958) e se ampliaria o Estádio com o terceiro anel (num dos lados).


Os passos cautelosos (as torres de iluminação foram pagas com a campanha dos azulejos e, sobretudo, pelo Presidente Maurício Vieira de Brito, a quem coube também a fatia de águia, através do mecenato, do terceiro anel) contrastaram com os principais adversários, que, igualmente nessa década, inauguraram novos estádios (FC Porto em 1952 e Belenenses e Sporting, ambos em 1956). Com o Estádio pago integralmente, o que não se verificou nos adversários, o Benfica dispôs de uma posição vantajosa a nível financeiro face aos oponentes.

Neste enquadramento, introduzindo-se ainda na equação a implementação do profissionalismo no futebol benfiquista e a construção do Lar do Jogador, nos quais o treinador Otto Glória, contratado em 1954, teve papel preponderante, facilmente se percebe porque o Benfica, depois de nove temporadas consecutivas em que venceu apenas um Campeonato, ganharia quatro das sete edições posteriores à inauguração do Estádio, culminando esse período com a primeira conquista da Taça dos Clubes Campeões Europeus.


Mas a história do antigo Estádio da Luz tem mais dimensões do que as referidas associativa, económica e desportiva. Há, por exemplo, a questão simbólica da data da inauguração, nomeadamente quando analisada em comparação com as datas de inauguração dos estádios dos principais adversários à época, tornada relevante por derivas revisionistas passadas décadas, procurando-se diminuir o estrondoso sucesso do Benfica a partir dos anos 60 do século passado, pelo caminho ocultando-se o sucesso benfiquista até ao início dos anos 40 – e o mesmo é dizer que se tentou justificar insucessos próprios atropelando-se a história.


Estádio da Luz

A historieta do "Benfica, clube do regime" não tem adesão à realidade, pelo que pode ser desmontada de diversas formas. Os factos demonstram que o Benfica é, desde sempre e ininterruptamente, um clube inclusivo, alheio ao contexto político, predominando a ideia de que todos são bem-vindos desde que o propósito seja engrandecer o Clube.

António Ribeiro dos Reis, antigo jogador, treinador e dirigente benfiquista, certa vez afirmou "O Benfica, só o Benfica e nada mais do que o Benfica" (a citação poderá não ser ipsis verbis, mas o sentido é este), traduzindo um dos mais vincados traços identitários do Clube. O Benfica está acima de tudo e todos, não se devendo deixar instrumentalizar por quem quer que seja.

Durante o Estado Novo, o Benfica foi servido por milhares de Benfiquistas, incluindo figuras da oposição e da situação, todos respeitando a salutar convivência em prol do Clube e subordinados aos direitos e deveres dos associados, onde se incluía a participação em atos eleitorais democráticos num país subjugado ao totalitarismo. A política ficava de fora, só o Benfica e nada mais do que o Benfica interessava.

Por isso não surpreende que o Estádio da Luz, em contraste com os estádios de outros clubes inaugurados na mesma década, tivesse passado ao lado da situação política. Houve expropriação de terrenos e comparticipações monetárias disponibilizadas para a construção à semelhança do que aconteceu com vários estádios, mas esse foi o limite no caso do Benfica, que nem sequer foi palco de jogos da Seleção Nacional até 1971.

Em 1950, englobado nas comemorações do 28 de maio – data do golpe militar de 1926 que conduziu ao Estado Novo – foi inaugurado o Estádio 28 de Maio, em Braga, pertencente ao município. Em 1952, de novo em 28 de maio e integrado nas festividades do regime, foi inaugurado o Estádio das Antas, do FC Porto. E, em 1956, 10 de junho, então denominado "Dia da Raça", o outro grande feriado do Estado Novo, foi com pompa e circunstância que se deu a estreia do Estádio José Alvalade, do Sporting. O Estádio do Restelo "nasceu" em 23 de setembro do mesmo ano.

Estádio da Luz

Foi em 1 de dezembro de 1954 que o Estádio do Sport Lisboa e Benfica recebeu dezenas de milhares de benfiquistas pela primeira vez. O prato forte das festividades foi o desafio entre Benfica e FC Porto, o qual não correu de feição (1-3), mas o futuro ditaria que não seria de mau agoiro. Seguiu-se, no dia 5, um jogo com o Belenenses (7-2) e, no dia 8, a receção ao Real Madrid, de Di Stéfano, com o resultado a sorrir aos merengues (0-2).

1 de dezembro é o feriado civil mais antigo em vigor em Portugal, comemorado desde o século XIX, uma data sempre importante para o país resultante das celebrações da restauração da independência de 1640. Evocado pelo antigo regime, não se tratou ou foi transformado numa data do Estado Novo.

A escolha desse feriado afastou, por isso, a possibilidade de o Estado Novo se apropriar da inauguração do Estádio da Luz, convertendo-a, desse modo, em mais uma ação propagandística.


Não houve possibilidade, no entanto, devido a alegados atrasos nas obras, de se repetir com o Estádio da Luz a data escolhida, em 1941, para a estreia do renovado Estádio do Campo Grande, o dia 5 de outubro, um feriado tolerado, e pouco celebrado, pelo Estado Novo, que inclusivamente o redenominou "Implantação da República" em detrimento de "Heróis da República", por certo numa tentativa de suavizar a conotação com os protagonistas do regime anterior à ditadura militar de 1926.

O Benfica, só o Benfica e nada mais do que o Benfica. Foi, é e sempre será assim. Por muito que alguns teimem em desvirtuar a história.

Artigo publicado no jornal O Benfica


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