"Sinto muito boa energia e muita fome de ganhar títulos"

 

Numa conversa com Ljubomir Fejsa, antigo médio cinco vezes campeão nacional pelo Benfica, Florentino Luís – centrocampista que chegou aos 150 jogos pela equipa principal encarnada no passado dia 15 de dezembro – salientou a "muito boa energia e muita fome de vencer títulos" no seio do plantel benfiquista.

"Isso é bom porque também sentimos os adeptos do nosso lado e acho que podemos fazer coisas bonitas neste ano, mas o nosso principal objetivo é sermos campeões nacionais", enalteceu Florentino, no 7.º episódio do Mística a Dois.

Numa conversa repleta de benfiquismo, o camisola 61 e o antigo 5 das águias, ambos médios-defensivos, trocaram impressões sobre a posição que partilham e recordaram os seus trajetos no Clube – que se chegaram a cruzar –, valorizando a sua dimensão.

"Os adeptos, o acompanhamento que temos não só quando jogamos em casa, mas também quando jogamos fora de casa... as condições que nos são dadas aqui no Benfica Campus, diariamente. São coisas que não são todos os clubes que proporcionam, e saber que o Benfica nos dá essas condições é muito gratificante", relevou Florentino.

LJUBOMIR FEJSA: Parabéns pelos teus 150 jogos. O que é que esta marca representa para ti, que cresceste no Benfica?FLORENTINO LUÍS: Antes de mais, muito obrigado. Representa muito porque, no início, nunca pensava. O meu sonho era somente chegar à equipa principal e nunca pensava que ia conseguir fazer 150 jogos. Mas é uma grande honra para mim, saber que estou nesse nível já há algum tempo. E saber também que estou numa posição em que tu também jogaste. Quando eu era mais novo, quando estava na Formação, eras uma referência para mim, porque via-te a jogar e identificava-me muito. Hoje é um grande orgulho estar nessa posição também.

LF: Obrigado.

FL: De nada.

LF: Lembras-te do teu primeiro jogo? O que é que sentiste naquele dia quando entraste em campo?

FL: Ah, foi um jogo muito especial [SLB-Nacional, 10-0, 10/02/2019], porque… creio que foi o segundo jogo em que eu fui convocado. Fui para o banco e estava a sentir, porque o jogo estava praticamente quase ganho. Quando vi que o resultado estava a ser muito positivo [6-0 no momento da substituição], comecei…

LF: Foi mais fácil…

FL: Era mais fácil também… comecei a preparar-me, a dizer: "Acho que vou entrar." Entrei, e depois também o facto de ao entrar logo no campo e ver muita gente – não estava habituado a jogar com aquela gente toda. Entrar, e logo o primeiro lançamento foi o André Almeida que passou para mim e eu passei para ele outra vez, e o primeiro toque foi bom. Aí senti-me logo confiante e consegui fazer um bom jogo.

LF: Sim, eu posso dizer o mesmo. No meu primeiro jogo [SLB–Académica, 5-1, 11/04/2015], quando entrei, entrei 25 minutos. No primeiro jogo, ganhei a bola e depois comecei… a sentir… FL: Tranquilo, tranquilo.

LF: Acho que já estava 3-0, para nós, sim. Eu entrei e depois… começa a andar tudo.

FL: É sempre diferente quando… é diferente entrar a ganhar ou entrar a perder.

LF: Nós jogámos juntos nessa época, fomos campeões juntos. Lembro-me bem de quando apareceste na equipa principal. Hoje continuas a ser o mesmo jogador e a mesma pessoa ou mudaste muito de 2019 para cá?

FL: Acho que… nessa altura, quando cheguei à equipa A, também a forma de jogar era um pouco mais diferente. A nossa equipa tem muita qualidade, mas hoje estou um pouco mais maduro. Sinto que também estou a evoluir um pouco mais no aspeto ofensivo, e continuar a ser um jogador mais equilibrado para dar mais coisas à equipa, também.

LF: É claro, saber equilibrar… [risos]

FL: [risos]

LF: Quem jogou no Benfica e noutros clubes dá ainda mais valor ao Benfica, que é um clube único. As tuas experiências no estrangeiro ajudaram-te a perceber que era aqui que tinhas de voltar para atingir a felicidade no campo?

FL: Sim, sem dúvida, porque quando eu saí para fora, nos dois empréstimos que tive, aí dei ainda mais valor ao Benfica do que eu já dava, porque os adeptos, o acompanhamento que temos não só quando jogamos em casa, mas também quando jogamos fora de casa... as condições que nos são dadas aqui no Benfica Campus, diariamente. São coisas que não são todos os clubes que proporcionam, e saber que o Benfica nos dá essas condições é muito gratificante, ainda mais sendo uma casa em que eu cresci. Eu estando em casa, sabendo que é um sítio em que eu cresci desde pequeno, é uma coisa de muito valor. E sabendo também que o Benfica é um clube grande, europeu, que joga Liga dos Campeões, que nem todas as equipas têm esse privilégio.

LF: Quando eu cheguei ao Benfica tu eras iniciado, tinhas 14 ou 15 anos… alguma vez pensaste que jogaríamos juntos? Sim, sim. FL: Não, não… por acaso, nunca pensei. Nessa altura, quando eu… nós íamos apanha-bolas, sabes? Só ir para aí já ficava muito contente. E, às vezes, quando era intervalo do jogo, nós podíamos dar uns passos ali ao pé do campo – não dentro do campo, mas ao pé do campo. Aí nós já ficávamos muito contentes e dizíamos: "Fogo, olha aqui esta relva, olha esta bola…" E nós sonhávamos muito. Na altura, os jogadores Sub-15 que estavam comigo, hoje em dia, os que foram profissionais são poucos, e nós sabíamos que era muito difícil, mas graças a Deus consegui chegar aqui.

LF: Quem te lançou na equipa principal foi Bruno Lage. E agora voltaste a reencontrá-lo. É um treinador especial para ti?

FL: Sim, porque foi o que me deu a possibilidade de chegar à equipa principal, e estar outra vez com ele é especial porque também já o conheço bem, já sei as ideias que ele tem. É um treinador muito exigente, mas acho que quando os treinadores são exigentes conseguem tirar o melhor de cada jogador. E acho que o fruto tem sido o que tem acontecido, o termos tido bons resultados, e acho que o caminho é continuar.

LF: Eu conheço bem o trabalho que fazemos em campo. Somos jogadores de equipa, de recuperações, equilíbrios e coberturas. Eu adorava o meu papel, e tu?

FL: Também, também, também gosto muito. Apesar de ser uma coisa a que muitas das vezes as pessoas não dão valor, porque estamos lá e parece que não estamos lá. No final do jogo, as pessoas dão mais importância a quem faz os golos, a quem faz as assistências, mas acho que é um papel fundamental porque tem as duas coisas: tem o defensivo e tem o ofensivo. Temos de saber defender bem e também temos de saber fazer bem a ligação da defesa para o ataque. Acho que é um papel fundamental e temos muito tempo a bola.

LF: Quando entras em campo, qual é a tua maior preocupação? Qual é tarefa onde dizes "Aqui não posso falhar"?FL: Acima de tudo acho que é defensivo, porque o nome, assim direi, é médio-defensivo. Acho que o principal tem de ser o defensivo, e depois o ofensivo vem naturalmente. E tento sempre equilibrar a equipa. Quando a equipa está mais lá à frente, ver os jogadores adversários que ficaram, para não haver transição para a nossa baliza. Ofensivamente também estar bem posicionado para que consiga ser um jogador que possa tirar a bola da pressão. E acho que estar constantemente a pensar naquilo que posso ajudar, ajuda a equipa a estar sempre bem equilibrada.

LF: Lembras-te de alguém que te tivesse dado um conselho de que nunca mais te esqueceste?

FL: Acho que já recebi vários conselhos, mas um que eu tenho assim muito na cabeça é de desfrutar do futebol, desfrutar do momento, porque, às vezes, nós crescemos e desfrutamos do futebol, mas, quando chegamos ao futebol profissional, muita pressão está em cima de nós, muitas coisas estão em cima de nós e esquecemo-nos do mais importante, que é desfrutar, porque é isso que nós fazíamos desde crianças, que era jogar à bola. Ainda mais agora que é uma profissão, consigo viver disso, e acho que o mais importante é desfrutar de cada momento que nós temos.

FL: Agora tenho uma pergunta para ti. Foste campeão em todo o lado em que jogaste e foste cinco vezes campeão pelo Benfica. O segredo eras tu?

LF: O segredo não sou eu, o segredo é toda a equipa. É quando estamos juntos, todos juntos queremos ganhar, isso é o grande segredo.

FL: E deixaste de jogar futebol há pouco, sentes muitas saudades?

LF: Eu tenho tantas saudades… Nem consegui contar, acho que esperei um ano. Esperei um ano para depois dizer a toda a gente: "Agora vou parar." Por isso, ainda hoje sinto tantas saudades que treino todos os dias em casa só para, para…

FL: Para mexer.

LF: Fazer alguma coisa, sim. Por isso é difícil, para mim é difícil.

LF: Qual é ou qual foi o jogador que mais te fascinou até hoje?FL: Muitos, muitos jogadores com que gostei de jogar. Se calhar, assim de qualidade: Jonas. Acho que Jonas, Di María… Acho que são os jogadores assim com muita qualidade que, hoje em dia, tive o prazer de jogar. Mas assim, referência, como já disse há pouco, eras tu a minha referência. Gostava de ver-te jogar porque identificava-me muito e gostava muito da maneira como jogavas.

LF: Pena porque não jogámos um pouco mais tempo.

FL: É. Temos de falar com o míster para ver se ainda dá para o próximo jogo.

LF: Estás com 25 anos. Ainda estás… puto. Quais são as tuas metas para o futuro?

FL: Ah, gostava de ganhar muitos, muitos títulos pelo Benfica. Ser campeão pelo Benfica, nacional. Ganhar muitas taças também.

LF: E para esta época, conta-me lá como é que está o grupo. A malta sente que esta época vai acabar muito bem para o Benfica?

FL: Acho que o grupo está muito equilibrado, está um mix de jogadores um pouco mais experientes com jogadores novos. E sinto muito boa energia e muita vontade, muita fome de ganhar e vencer títulos. E acho que isso é bom porque também sentimos os adeptos do nosso lado e acho que podemos fazer coisas bonitas neste ano, mas o nosso principal objetivo é sermos campeões nacionais.

LF: Amigo, foi um prazer falar contigo. És um bom jogador, para mim. Gosto de ver-te. Também já falei com o meu filho. Até no último jogo, disse ao meu filho: "Olha, este era muito novo quando começou a treinar comigo. Agora está a crescer muito, joga bem." Por isso, é um prazer. Muita sorte para o resto da época.

FL: Muito obrigado. Ainda posso jogar com o teu filho, não é?

FL: Obrigado pela nossa conversa, foi um prazer.

LF: Boa sorte.