"O Benfica é um clube gigante"
Rui Águas, um dos avançados icónicos da história do Benfica – descendente do mítico José Águas –, e Arthur Cabral, avançado da equipa de futebol profissional, protagonizaram uma conversa no 6.º episódio do Mística a Dois, tendo como pano de fundo os 50 jogos oficiais do jogador brasileiro de águia ao peito.
Debruçados sobre a arte do golo, Arthur Cabral e Rui Águas debateram os pormenores de quem tem como missão fazer balançar as redes contrárias. O camisola 9 dos encarnados, após ter completado meia centena de jogos com o Manto Sagrado no embate de Champions League com o Feyenoord, a 23 de outubro, no Estádio da Luz, enalteceu a "força do grupo de trabalho" dos comandados de Bruno Lage.
Totalmente focado nos objetivos coletivos das águias – por quem apontou 12 golos em todas as provas desde que ingressou no Clube em 2023/24 –, Arthur Cabral sublinhou o desejo coletivo de vencer o próximo encontro, frente o Rio Ave, na 9.ª jornada da Liga Betclic, domingo, às 18h00, no Estádio da Luz.
RUI ÁGUAS: Cinquenta jogos, completaste agora neste último. Algum significado especial? Não?ARTHUR CABRAL: Muito especial. Fazer 50 jogos numa equipa como o Benfica é de se celebrar muito. De estar feliz, de estar orgulhoso, não é para qualquer um. É chegar nessa marca, sei que não é uma marca muito grande, mas é um caminho para fazer mais. Cem jogos, 150… E… com conquistas, que é isso o meu objetivo.
RA: OK. Doze golos. Achas que esperavas mais? A dificuldade da exigência do Clube chocou de alguma maneira? O que é que tu achaste…
AC: Então, com certeza esperava mais, não é? Você conhece, você fez a mesma posição que eu, então sabe, a gente entra todo o jogo pensando não só em ganhar os jogos, mas também em tentar ajudar, fazendo o que a gente sabe fazer de melhor, que é fazer golo. Então, com certeza, queria muito chegar nesse momento e ter uma marca mais expressiva de golos, como tive nas equipas em que joguei. E infelizmente não tem uma marca melhor para estar celebrando aqui, mas não é um motivo de estar – como é que eu posso dizer? – me dececionando aqui, mas um motivo, sim, de buscar mais e de melhorar e evoluir.
RA: Positivo, olhar para a frente e acreditar que as coisas podem ser melhores.
AC: Que podem acontecer.
RA: Um jogo especial, mais especial que os outros? Lembras-te de algum destes 50, ou nem por isso?
AC: O jogo contra o SC Braga [SLB-SCB, 3-2, 10/01/2024] no Estádio da Luz foi muito especial. Acho que foi um dos melhores jogos meus, aqui, com a camisa do Benfica.
RA: Já não me lembro. Fizeste golo?
AC: Fiz um golo. Fiz um golo, fiz uma assistência e fiz um bom jogo também. Ganhámos um jogo difícil onde saímos perdendo. E quando eu fiz o golo, eu fui celebrar com a torcida, com os adeptos. E é um dia bem, bem especial para mim.
RA: Por falar em golos, o teu preferido destes que fizeste pelo Benfica? Tens algum Fizeste uns bonitos.
AC: O jogo da Champions, em que eu fiz o golo contra...
RC: De calcanhar? Esse foi importantíssimo.
AC: Sim, de calcanhar, contra o Salzburgo. Foi um golo importante, num jogo em que eu entrei já nos acréscimos. Como é que fala? Descontos?
RA: Sim, descontos.
AC: Entrei nos descontos, e foi um golo que levou a gente para a Europa League. Para mim é um golo bem especial também.
RA: Eu não tinha grande apetência para grandes malabarismos, mas há alguns golos que tu tens bem bonitos, diferentes. Até procuras... tens a tendência para dominar por vezes para trás e não para frente... AC: Eu costumo dizer que… como é que eu posso dizer? O ponta de lança, centroavante, precisa de ter recurso, não é? Recurso para fazer o golo. O nosso objetivo é colocar a bola para dentro. Então… o golo de calcanhar, o golo de bicicleta vale o mesmo tanto daquele golo de carrinho. Então, para mim, o que eu tento ter na minha cabeça é o recurso de, no momento, independentemente de como seja, tomar a decisão correta. Às vezes a bola fica um pouco atrás, então aí eu estico o calcanhar, às vezes a bola…
RA: É um recurso, é um recurso.
AC: Às vezes até por um controlo que sai um pouco errado, então você tem de dar um jeito de consertar, de chutar com a perna esquerda, chutar com a perna direita, ajeitar o corpo, então muitas vezes aí sai uma bicicleta, às vezes sai uma letra, sai um lance diferente simplesmente por ter de finalizar rápido.
RA: Sim, sim, sim.
AC: Também muitas vezes a gente não tem o tempo dentro da área de… ah, dominou, vou dar mais um toque para fazer a finalização perfeita.
RA: E perde a altura...
AC: É, esse tempo você não tem, então, se a bola estiver aqui, você tem de finalizar, se a bola estiver aqui, você tem de finalizar. Então muitas vezes assim acabam saindo umas coisas diferentes.
RA: Para variar também, convém.
AC: [Risos]
RA: Achas que a questão dos números é demasiadamente importante para o avançado em relação aos adeptos, em relação à Imprensa. Há sempre uma relação numérica com o avançado, e menos valor àquilo que o avançado faz enquanto trabalho. Concordas? AC: É, tenho de concordar, não é?
RA: A realidade.
AC: É a realidade, até porque eu acredito que a nossa posição é uma posição onde a gente não consegue passar despercebido durante os jogos. Se a equipa ganha ou não, muitas vezes tem outras posições em que você consegue passar despercebido...
AC: Aproveitando que a gente está aqui, você, que sabe os caminhos do golo muito melhor do que eu, fez muitos mais golos na carreira, no Benfica, enfim... Se tiver alguma dica, alguma coisa que me possa ajudar, eu vou aceitar muito...
RA: [Risos] Fui uma vez só melhor marcador. Fomos campeões, a equipa, pronto, dependes da equipa, da produção da equipa, do ambiente da equipa, e eu tirei partido disso também... Tecnicamente tu tens aquilo que eu tinha também... Eu tinha uma especial vocação pelo jogo aéreo, por isso eu acho que a questão mental é muito, muito importante... A maneira como tu não marcas num jogo, mas, a seguir, acreditas na mesma que vais marcar. Eu acho que é a melhor dica [risos] que eu posso dar.
AC: Muito bem-vinda.
RA: A questão entendimento com os teus colegas vai naturalmente crescendo. É difícil treinar com a quantidade de jogos que vocês têm. Por exemplo, na minha altura, o meu ala sabia melhor o que é que eu pretendia dele. Por exemplo, eu tinha muita tendência a rodar no segundo poste e depois atacar atrás do central... AC: Sim...
RA: E eu ganhava muito com isso... Se esse entendimento, hoje em dia, é mais complicado de se conseguir…
AC: É, ajuda muito, não é? Você tem, por exemplo, jogadores que estavam aqui desde a temporada passada, eu consigo já entender melhor, por exemplo, quando o Di María tem a bola, consigo entender melhor o que ele pode fazer, onde ele pode dar uma bola, quando o Kökcü tem a bola, ou o Florentino... que são jogadores que estavam aqui há mais tempo comigo...
RA: Já te conhecem, e tu conhece-los...
AC: É... Então, com os jogadores mais novos a gente vai criando ainda esse entendimento, do estilo de jogo, do que ele pode entregar para mim, do que ele é melhor, então são coisas que ajudam bastante, não é?
RA: Algo que eu gosto especialmente em ti... Eu dou muito valor à maneira como alguém entra, seja um minuto, sejam três minutos, sejam seis minutos, seja o que for... alguém que sai do banco com uma disposição de, independentemente do tempo que tem, entra a 100 por cento... É algo que eu admiro, e que eu, quando me acontecia, procurava fazer. Por isso, a nossa responsabilidade, a tua, a minha, é, no tempo que nos dão, ninguém ter nada a dizer de nós. E eu tinha muita preocupação com isso, e vejo em ti aquilo que eu sentia… E essa maneira de entrar já ajudou a equipa várias vezes, até com golos, contribuindo. Por isso, é uma questão que, eu acho, diz bem da tua cabeça.
AC: É como você falou, não é? É a parte mental. Para a gente, que é jogador de futebol, a gente tem de estar com o mental bem, o mental em dia, e acredito que isso faz muito parte do mental. Com certeza, claro que a gente quer jogar sempre, é o normal do jogador de futebol. É querer ter mais minutos, querer começar os jogos, mas daí vem a parte mental de, mesmo não começando os jogos, mesmo tendo menos tempo, conseguir manter a motivação, conseguir manter o foco e aproveitar quantos minutos que sejam, que sejam três, que sejam cinco, que sejam dez, aproveitar da melhor maneira possível e assim tentar conquistar mais minutos, conquistar mais confiança do...
RA: Do treinador.
AC: Do treinador, da comissão técnica, até de si mesmo.
RA: Isso é um bom – excelente – exemplo para toda a gente. É uma demonstração de… de humildade, e que nós falámos no início, em relação à responsabilidade desta camisola, que vocês dizem... camisa, camiseta?
AC: Camisa [risos]…
RA: Como é que tu sentes, passado este tempo... Quer seja em Portugal, seja onde for que o Benfica jogue, está sempre em maioria, normalmente, e quando viajas para fora também encontras Benfiquistas em todo o lado…
AC: Sim…
RA: Só a tua opinião em relação à exigência que tu tens percebido que existe, desde que chegaste, e que é difícil, não é? AC: Sim, sim, é, o Benfica é gigante. É gigante. A gente joga aqui em Portugal, todos os jogos que a gente joga, 90% dos jogos têm mais adeptos nossos, a nossa torcida faz mais barulho que as outras, então é uma pressão que você sabe que existe. A gente foi jogar fora do país, a gente fez um amigável na França, e tinha muita gente lá, torcedor. Uma vez, quando eu estava na Suíça, que às vezes eu vou lá para visitar meu filho...
RA: A Suíça tem muito português.
AC: É, tem muito português, e algumas pessoas me pararam, por serem portugueses e por serem adeptos do Benfica, para falar comigo, para desejar boa sorte, enfim, é uma pressão que você já sabe que existe, porque é um clube como o Benfica, que é um clube gigante...
RA: Mas ampara também, sentes-te amparado...
AC: Exato.
RA: Estás em casa um bocadinho em todo o mundo.
AC: Exato, exato. É muito legal. É o sonho de qualquer jogador, não existe você ser jogador de futebol e não querer jogar num clube como o Benfica, num clube gigante, num clube de massa, num clube de títulos, de história, então, é uma realização chegar num clube desses, fazer 50 jogos, estar indo para cima da temporada, é uma motivação muito grande, de querer marcar a história, e marcar o meu nome...
RA: Responsabilidade também, não é?...
AC: Exato.
RA: Como é que tu e os teus colegas estão nesta fase, como é que encaram o resto da temporada? Já sabemos que é difícil, que o início não foi bom, mas se sentes força suficiente para as coisas continuarem a melhorar... AC: Sim, sim. Infelizmente, a gente vem de um resultado ruim, não é? Mas acredito que não, não é um resultado que vai tirar a confiança do nosso grupo, a gente mostrou que tem um grupo forte, fizemos excelentes partidas antes, infelizmente aconteceu essa derrota agora, mas é algo que vem para fortalecer ainda mais, para mostrar os erros, para poder consertar e para, com esses acertos, a gente estar buscando os objetivos da temporada, é voltar a vencer no próximo jogo no domingo, quem veste a camisa do Benfica sabe que tem de vencer sempre, e tentar recuperar os pontos perdidos na Champions League, no próximo jogo, também, e agora o foco também é na nossa Liga, não é? Domingo, a gente tem um jogo muito difícil contra o Rio Ave, e tentar dar a volta por cima diante do nosso torcedor, no nosso estádio.
RA: Eu sou Benfica desde pequenino. O meu pai foi capitão do Benfica há muitos anos, foi um jogador dos mais famosos, foi o jogador que ergueu a Taça dos Campeões Europeus por duas vezes, por isso o Benfica, para mim, desde muito cedo, faz parte da minha vida. Cada profissional veste a camisola de uma maneira séria, se um dia te vais lembrar do grande clube onde estiveste...
AC: Com certeza. O Benfica marca, vai marcar a minha história, com certeza. Eu vou levar o Benfica para a minha vida. Sou muito grato pela oportunidade de vestir a camisa do Benfica.
RA: O teu filhinho também vai ter de ser do Benfica [risos]...
AC: O meu filho com certeza. O meu filho deve ter umas cinco camisolas do Benfica já. Com certeza vai crescer esse carinho.
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