"Temos de nos manter juntos, jogadores e adeptos, para irmos todos na direção certa"
São de distintas gerações, mas têm o ADN benfiquista bem presente no dia a dia. Shéu é um dos rostos da Mística encarnada, a mesma que Aursnes enraíza desde que chegou ao Clube em agosto de 2022. Os 100 encontros realizados de águia ao peito pelo internacional norueguês, marca atingida diante do Estrela da Amadora na 3.ª jornada da Liga Betclic, compõem o mote de uma entrevista aos meios do Clube, em que a paixão e o sentimento são vincados em cada resposta.
Com 54 anos de Benfica, nos quais completou 17 épocas como jogador na equipa principal, de 1972/73 a 1988/89, Shéu, antigo centrocampista, faz parte da galeria de atletas que alinharam apenas num emblema durante toda a carreira profissional.
A entrega e a atitude no relvado unem Shéu a Aursnes, que se diz honrado e "orgulhoso" pela centena de partidas com o Manto Sagrado. "Bastante humilde", como se caracteriza, o camisola 8 pretende aumentar um registo pelo qual o entrevistado o felicita.
Glória do Benfica, Shéu revê-se no perfil do médio, cuja experiência na Luz tem sido "muito positiva". "A dimensão do Clube é muito maior do que estava à espera", confessou, realçando a preponderância dos Benfiquistas. "Em quase todos os estádios fora temos 90% de adeptos do Benfica, e isso ajuda-nos muito", testemunhou Aursnes.
E quem sabe se, juntos, não dominariam o meio-campo do Benfica, como sugeriu Shéu, a finalizar, numa nota de boa-disposição...
SHÉU: É um prazer estar aqui e poder entrevistá-lo. Nós, os Benfiquistas, apreciamos muito a sua forma de jogar e de estar. Queria dizer estas palavras antes de começar a nossa entrevista... AURSNES: Estou muito feliz por estar aqui consigo, sinto-me muito orgulhoso. E claro que estou muito orgulhoso e feliz por estar aqui no Benfica.
S: Queria-lhe dar os parabéns pelos seus 100 jogos realizados, pelo Benfica, em dois anos… Isso é uma marca importante.
A: Claro que, como disse, estou muito orgulhoso por chegar aos 100 jogos. Já lá vão dois anos que cá estou, e chegar aos 100 jogos em dois anos… Foram muitos jogos. Claro que ainda me faltam muitos jogos para o alcançar, mas é um bom número e quero continuar a fazer cada vez mais jogos pelo Benfica.
S: Deve ter sido um sentimento agridoce porque por um lado cumpriu o centésimo jogo, por outro lesionou-se. Como é que se sente?
A: Vou estar de fora algumas semanas, mas estou a trabalhar arduamente para voltar o mais depressa possível.
S: Deixe-me só acrescentar que o seu perfil leva-me a crer que o tempo que está estabelecido vai ser reduzido. Portanto, é uma esperança que se lê nos seus olhos.
A: Tenho essa esperança e quero mesmo recuperar muito rapidamente. Vou dar o máximo todos os dias para o conseguir. Claro que quero tentar voltar ao relvado o mais depressa possível, porque é onde me sinto feliz.
S: Destes 100 jogos, em 90% foi titular. Foi mais difícil atingir esse número? Pensa prolongar? Acha que vai ser mais difícil ou mais fácil? A: Pensei que não chegaria aos 100 jogos tão depressa. Não sabia o que esperar de mim, que iria fazer tantos jogos. Era bastante humilde e continuo a sê-lo, porque acho que é um clube muito grande. Fazer tantos jogos por este clube é uma verdadeira honra para mim e estou muito orgulhoso! Ser titular em tantos jogos é sempre uma honra e não o tomo como garantido. No Benfica, com a sua história e dimensão, e todos os bons jogadores que aqui estão, é uma honra! E estou muito orgulhoso de vestir a camisola, todas as semanas, e lutar pelo emblema. Acho que talvez seja um dos meus pontos fortes, o facto de ter esta atitude.
S: Parabéns por isso e espero que faça muitos mais jogos.
A: Eu também.
S: Tem oito golos pelo Benfica. Qual foi o mais bonito e o mais especial?
A: Talvez o meu primeiro golo pelo Benfica [frente ao Santa Clara, nos Açores, em 21 de janeiro de 2023], foi especial para mim. Não marquei assim tantos golos. Agradeço por todos, mas acho que o meu primeiro golo será extra especial.
S: E qual acha que foi o melhor jogo que teve pelo Benfica?
A: É uma pergunta difícil. Um jogo de que gostei muito foi na minha primeira época, quando jogámos contra a Juventus, na Liga dos Campeões. Penso que a equipa jogou muito bem, e gostei muito, por isso, é um jogo de que me lembro. É uma recordação que tenho, um jogo que acho que foi muito agradável de jogar.
S: É evidente que o público gosta que se realce um jogo, não é? Nós procuramos um jogo, mas o nosso perfil, ou o perfil do Fredrik [Aursnes], é de facto que todos os jogos são importantes, e você parece que tem pilhas, não é? Que nunca acabam. Corre o jogo inteiro, com e sem bola… De onde vem essa resistência? Essa capacidade para estar sempre ativo no jogo?A: Não sei, acho que tem sido o meu estilo de jogo desde criança, dar sempre 100% e fazer tudo o que posso em cada situação. Penso que faz parte de mim. Tento dar o meu melhor em qualquer que seja o jogo. E, claro, acredito que a minha genética permite-me correr muito.
S: Muito bem, muito bem. Revejo-me muito em si, porque também era um jogador de equipa e que fora de campo também era discreto. Sempre foi assim, ou adaptou a sua forma de estar a um clube desta dimensão?
A: Sempre fui assim e também tentei ser eu próprio quando vim para o Benfica. Tenho tentado ser eu mesmo, como pessoa e como jogador, ao longo de toda a minha carreira. Acho que isso é bom e que toda a gente devia fazê-lo, como é óbvio. Deviam tentar ser eles próprios. Não é que exista uma única maneira de ser, toda a gente é diferente, e num balneário vão sempre existir personalidades diferentes. Cada um deve tentar encontrar o seu caminho. E eu sou como sou.
AURSNES: E como é que você era?
SHÉU: Era também muito pró-equipa. Muito para a equipa, digamos assim. Muito mais de pensar sobre mim, pensava sobre a equipa. Eu gostava muito de pensar sobre as necessidades da equipa. Tentava sempre compreender cada momento no jogo para, eventualmente, influenciar os meus colegas. Também tive de trabalhar muito, porque senão também não jogava, não é? Tinha de trabalhar muito, porque eu julgava que, se eu não trabalhasse, ele [o treinador] não olhava para mim.
A: Sim, sim.
S: Como é que lida com os fãs? Aqui, a paixão dos adeptos é maior do que na Noruega ou na Holanda [Países Baixos]… O que é que você acha disso?
A: Sim, é, sem dúvida, pelo menos na Noruega, onde não há tanta pressão. Ter passado um ano nos Países Baixos, onde tive de me adaptar um pouco, mas depois vir para aqui também foi uma novidade para mim. O facto de ter sempre esta pressão todas as semanas, todos os dias, é algo com que temos de lidar. Quando estamos todos os dias com a equipa, apoiamo-nos uns aos outros. Penso que isso ajuda muito. Tentamos concentrar-nos no que podemos fazer todos os dias para melhorar e para ganhar o jogo no fim de semana. Acho que é aí que deve estar o foco, e que tu e todos os outros jogadores façam tudo o que podem, diariamente, para atingir os objetivos. Acredito que todos nós fazemos isso. Não é mais do que aquilo que queremos, que nós e o Benfica tenhamos sucesso. E estamos a trabalhar todos os dias para isso. Claro que temos de viver com a pressão, mas é algo de que temos de tentar desfrutar também um pouco, enquanto jogadores. Por vezes pode ser difícil, mas acho que temos de nos manter todos juntos, os jogadores e os adeptos, todos nós, para irmos juntos na direção certa.
S: Deixe-me dizer que você também é líder. A sua forma de estar em campo e o exemplo que dá, jogando à direita, jogando à esquerda, jogando no meio… Isso é uma forma de liderança. Naturalmente que, se eu também fosse jogador, era capaz de seguir o seu exemplo. A: [sorriso] Juntos podemos atingir os nossos objetivos, isso é muito importante. Obviamente que os nossos adeptos, quando jogamos em casa ou fora, a forma como nos sentimos em todos os estádios fora… Para mim foi inacreditável! Não estava à espera quando vim para cá. Em quase todos os estádios fora temos 90% de adeptos do Benfica, e isso ajuda-nos muito.
S: Sem dúvida, sem dúvida. Eu já joguei há muitos anos, também já era assim. Aquela pressão que disse é fundamental. Sem a qual julgo que podemos até achar estranheza, não é? Portanto, a pressão é nossa irmã gémea. Anda connosco e isso é tão importante.
A: Sim.
S: Mudando de assunto… Como é a sua vida em Portugal? O que acha do nosso país? O que é que gosta de fazer nas folgas?
A: Gosto mesmo muito. O clima aqui é fantástico, a natureza é linda e a comida é maravilhosa. As pessoas também são muito simpáticas e, para mim, enquanto estrangeiro que não fala português, também falam muito bem inglês. Por isso tem sido muito bom, para mim, ter vindo para cá, e estou a gostar muito. Não podia pedir mais nada, para ser sincero, porque é um lugar muito agradável para viver.
S: Quando assinou pelo Benfica disse que foi uma decisão fácil pela grandeza do Clube. O Benfica corresponde exatamente ao que estava à espera ou surpreendeu-o?
A: Surpreendeu-me de uma forma muito positiva. Tem sido uma experiência muito positiva e a dimensão do Clube é muito maior do que estava à espera. E também em relação à pressão, aos adeptos e tudo aquilo que falámos antes… É muito maior do que eu esperava. Aqui em Lisboa, e também em Portugal inteiro, há adeptos do Benfica. Para mim, é realmente fantástico ver e experienciar isto. É um mundo totalmente novo para mim! Obviamente que jogar futebol aqui é fantástico, e jogar com todos os bons jogadores que aqui estão é realmente um espetáculo! Desfruto todos os dias por poder jogar aqui.
S: Tenho 54 anos de Benfica, 17 épocas como jogador na equipa principal. Sei muito bem o que é um jogador à Benfica, e você também é um jogador à Benfica. Sabe o que é um jogador à Benfica? A: Sim, muito bem. Você também sabe qual é a sensação, obviamente. Sinto-me muito orgulhoso e honrado de vir aqui todos os dias, para treinar, jogar no Estádio, e jogar fora, onde temos os estádios quase cheios de adeptos do Benfica… É fantástico! E não o tomo por garantido, aproveito todos os dias. Estou muito ansioso pelo futuro, mas tento viver o presente e aproveitar o máximo que posso todos os dias.
S: Muito obrigado. Foi um prazer para mim poder entrevistá-lo.
A: Obrigado (…). Eu também.
A: Não sei se está correto, mas… [Em português] Para mim, foi um prazer. Estou muito orgulhoso por jogar 100 jogos no Benfica. E foi um prazer.
S: [Em inglês] Juntos? No meio-campo? Dominávamos.
A: Íamos ser muito bons, certo?
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