"O primeiro passo foi este: trazer os adeptos para junto de nós"

 

A força dos corações dos Benfiquistas nas bancadas sustentou o triunfo (4-1) e a exibição alcançada na receção do Benfica ao Santa Clara, neste sábado, 14 de setembro, em duelo da 5.ª jornada da Liga Betclic. Essa convicção foi expressa pelo técnico Bruno Lage na análise ao desafio que decorreu na Catedral.

Nos dois momentos destinados à reação do treinador do Benfica, na zona de entrevistas rápidas após o encontro e na conferência de Imprensa, Bruno Lage demonstrou a sua felicidade pela simbiose que constatou entre os jogadores e os adeptos, garantindo: "Temos um trabalho enorme pela frente para que o pulmão que esteve dentro de campo esteja ao nível do coração que puxou pela equipa."

O envolvimento dos jogadores nos processos de jogo deixou Bruno Lage "feliz", atribuindo "mérito" à forma como estes se apresentaram, criaram e marcaram durante o duelo com os açorianos. O treinador do Benfica fez ainda questão de dedicar o triunfo a uma "pessoa muito importante": "Não tive oportunidade de despedir-me de um grande amigo, não conheço a família, mas gostaria de dedicar esta vitória ao míster Adolfo Calisto, que foi uma pessoa muito importante para quem trabalhou com ele durante muitos anos na Formação. Queria que esta grande vitória fosse dedicada a ele", disse.

AMBIENTE NA CATEDRAL: Determinante! "A equipa tentou jogar sempre num ritmo alto, a procurar jogar mais vezes no meio-campo ofensivo, mas o mais importante do jogo foi o ambiente que se viveu. Isso deixa-me duplamente feliz, quer pela vitória, quer pelo ambiente. A equipa não vinha de um momento positivo e, aos 30 segundos, sofrer um golo e sentir o apoio dos adeptos ajudou-nos imenso a ganhar o jogo. Curiosamente, um dos elementos da equipa técnica, quando chegou, referiu-se à temperatura, que estava frio cá dentro, mas eu disse-lhe: 'Espera que isto já vai aquecer.' E aqueceu! O aquecer é isto: o coração e o pulmão. O pulmão esteve bem, mas ainda tem de fazer muita coisa para estar ao nível do coração. É nesse sentido que vamos trabalhar para sermos cada vez mais fortes. O melhor que podia ter acontecido era o ambiente que os adeptos proporcionaram aos jogadores. É o que me deixa muito satisfeito. Vocês, eu, num ambiente positivo rendemos muito mais. Neste primeiro jogo, quero dar essa palavra aos adeptos. A época vai ser longa. Era muito importante que os adeptos saíssem felizes, percebam que foram fundamentais num mau momento da equipa. Quando estávamos a perder aos 30 segundos, foram fundamentais para criar um ambiente favorável para os jogadores jogarem. Vem aí um jogo muito importante na Champions, num novo formato, por isso, como dizem os brasileiros, é pé no chão e foco no que temos de trabalhar e fazer já no próximo jogo [com o Estrela Vermelha]. Não reconquistámos ninguém, fizemos um jogo e são três pontos."

UM GOLO MADRUGADOR E O MÉRITO DOS ATLETAS"A nota que tiro de hoje, e tiro para o futuro, é que, com um ambiente favorável, é mais fácil os jogadores poderem jogar futebol. Hoje, começámos a vencer quando o Santa Clara marcou o golo e os adeptos estiveram do lado da equipa. Isso foi determinante para vencermos o jogo. O sentimento de vermos os jogadores a tentarem fazer aquilo que treinámos em dois dias, por isso o mérito é deles [dos jogadores], porque foram eles é que criaram as várias oportunidades de golo e que marcaram os golos, num ambiente favorável. Assim, as coisas acontecem com alguma naturalidade. Não há tempo a perder, por isso não quero falar do passado. Quero é falar do que temos de fazer. Ainda temos um longo trabalho a fazer para que a equipa continue a jogar de forma positiva, para que a equipa crie muitas oportunidades de golo. Essa é a minha ambição, esse é o meu desejo, esse é o meu foco. Preparar a equipa da melhor maneira e que eles [jogadores] joguem. A espaços já tivemos o jogo que gosto que a equipa jogue e que os adeptos gostam. Para mim e para os jogadores há uma coisa muito importante que é... num momento difícil é fundamental estarmos preparados para. E nesses momentos estarmos focados no nosso plano de jogo. Temos uma estratégia, e quando as coisas não nos estão a correr bem em termos individuais, é ir àquilo que temos de melhor, ao nosso porto seguro, e a partir daí construirmos o jogo ou crescer dentro do próprio jogo. Quando sofremos o golo, o sentimento foi o de que temos ainda 90 minutos para pôr em prática aquilo que falámos. Mas grande parte das indicações foram no sentido de trazer os jogadores para o jogo em termos de posicionamentos, para sermos mais agressivos com bola e sem bola."

A FÓRMULA APÓS A DESVANTAGEM"Tentei passar alguma energia para a equipa porque senti que a circulação pelos defesas estava a ser lenta e pouco agressiva, de procurar mais à frente. Depois, quando a bola chegava aos médios, fizemos muitos passes verticais fáceis de serem anulados e que permitiam alguma transição ao Santa Clara. Procurámos ajustar um pouco e tentámos reforçar o que falámos numa paragem ou outra. Fiquei muito feliz, por exemplo, no primeiro golo, pela forma como a bola entrou dentro da área, por termos sido mais agressivos, por procurarmos aquele espaço e, depois, a classe do jogador a fazer o golo."

AS PRIORIDADES DADAS NA PREPARAÇÃO

"O mais importante foi tentar colocar os jogadores em posições nas quais se sentem confortáveis e depois eles perceberem que tipo de ligações eu quero que eles façam para termos um jogo mais ofensivo. Mérito dos jogadores. Foi mais em termos teóricos, do que propriamente a treinar. Porque em dois dias, e com eles [jogadores] em recuperação e em viagens... foi basicamente isso. Por isso, não quero dizer que foi o A ou o B , seria também injusto da vossa parte [jornalistas] personalizarem em um ou outro jogador. Acho que foi a equipa que jogou bem, os jogadores que entraram e jogaram bem. Mérito deles, de jogar e criar várias oportunidades de golo. Deixa-me realizado porque foi um dia bom, com um ambiente fantástico. Marcámos golos de várias formas... Não há muito tempo a perder. Esta tem de ser a nossa frase."

O PAPEL DE KÖKCÜ"Pedi que ele fosse um segundo médio, que nos ligasse mais o jogo com bola. Principalmente na segunda parte, acho que entrou muito melhor nesse período, porque começámos a ligar o jogo e isso deu-nos oportunidade também de ter o Álvaro [Carreras] mais largo, e curiosamente até aparece a situação do canto e do golo [2-1 por Florentino]. Por isso, eu gostei. Mas temos um longo trabalho pela frente. O mais importante é o trabalho que vou fazer diariamente com os jogadores. São três pontos, mas o primeiro passo foi este, o de trazer os adeptos para junto de nós. Só num ambiente assim é que os jogadores se sentem confortáveis para jogar."

AKTÜRKOGLU JOGA PARA A FRENTE"Mérito de quem o escolheu, mas gosto de jogadores assim, gosto de alas agressivos, gostava do Rafa, do Cervi, do Pizzi, jogadores que joguem para a frente, e ele tem essas características. Joga por dentro, por fora, falei com ele e sentiu-se confortável no papel que lhe pedi. Estou muito feliz por isso. O jogador chegou moralizado, fez três golos [na seleção da Turquia] e hoje fez o golo do empate. Estou muito feliz por isso."

O "TEMPO" NECESSÁRIO PARA JOGAR COMO DESEJADO

"Não é o tempo, mas o número de repetições e de treinos que vou fazer com os jogadores. Neste momento, pelo calendário, não vamos ter muitos treinos de aquisição. Por isso tem de ser com muito trabalho, de várias formas: em recuperação, com vídeos e, fundamentalmente, pela capacidade deles, porque temos um plantel bom que pode ainda crescer. Não se trata de tempo, trata-se de treinos e de quantas vezes vou treinar determinado tipo de movimentos para estarem sólidos e entendidos na equipa."